Clausura janela a que se destina me bem querer
careço do negro padecer que a noite me traz e apraz
moroso é o vento que desenha nosso intento
o medo é esse receio desejado por outros atormentado
Vem ao longe, imaginado...
Bem de perto, solucionado...
A procura de quem aprendeu a encontrar
O perdido nunca de quem se sabe revelar
Naquele inventivo perdido em que vivo
vermelho apagado em meu sonho desenhado
o espaço coberto coberto que ao longe vejo de perto
areia, pó, daquele nada tão só
Inventivas discretas, em si mesmo descobertas
realce sombreado por um todo quanto levado
de dizer o dito afinado pelos olhos nunca cantado
caminho ou perigo em nossos lábios sugerido
Prenúncio existido daquele que beija quando deseja
efémero sem o ter nesse som sem tom
A palavra omitida pela poesia ofendida
tão pouco esse gesto que define tudo o resto
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Preces demoradas
Plácida é a forma que a sombra retoma
entre os silêncios surdos que dormem sem se mover
a nascente que grita o calado ofuscado
de tanto chorado, tão só o beijo findado
Declamam os prazeres em tuas vestes
ofuscado é o prazer de te ver a ser
níveo beijo que em teu traço sobejo
castigar a luz ausente que te imprime jamais diferente
Venerado anseio de querer a que me apego
nesse todo sem parte de te ter
da condenação as algemas da sobrada esperança
exasperada saudade que em tudo me cansa´
Irreprímível é o olhar que me anseia a coragem
segundos são horas nessas demais delongas demoras
Invento as palavras em acordes desordenados
nessa prece que minha existência tece
entre os silêncios surdos que dormem sem se mover
a nascente que grita o calado ofuscado
de tanto chorado, tão só o beijo findado
Declamam os prazeres em tuas vestes
ofuscado é o prazer de te ver a ser
níveo beijo que em teu traço sobejo
castigar a luz ausente que te imprime jamais diferente
Venerado anseio de querer a que me apego
nesse todo sem parte de te ter
da condenação as algemas da sobrada esperança
exasperada saudade que em tudo me cansa´
Irreprímível é o olhar que me anseia a coragem
segundos são horas nessas demais delongas demoras
Invento as palavras em acordes desordenados
nessa prece que minha existência tece
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Emergências

Naquela prisão, nesse subterfúgio cativeiro
onde a luz desfocada de um sol desfeito nos evoca em primeiro
afundamos as submissões em desvarios de perguntas
intermitências são evocadas para no interior serem agarradas
Emergências solicitadas em meu corpo depositadas
em mim entregues pro mim renegadas
reminiscências esotéricas em minhas ilusões, seduções
daquele pecado em meu corpo sublevado
Denegrido aparece o sol nunca existido
em vão é a luta nessa caverna de paredes e redes
golpes de vento que acarretam o firmamento
o pássaro cansado que canta meu desespero evocado
Vibrante, sem ressoar a fé do sonho
morrer é o gasto papel em que solenemente me atiro
queixumes agoras de entãos agarrados ao nada erguido
inconsequente doer sem o prazer magoado
Descanso é o querer invadido do nada sugerido
da dor suplantado o grito de nascer a viver
recordações secas de deixas levadas em cena
da grande mágoa o fruto da lágrima mais pequena...
Corpo usado

Envolvem-se as palavras nesse uso estragado
entregam-se ao sorriso máscaras fingidas no sempre forçado
caminhado soluçar que recua cada saída em falso
jeito de ser o ser nesse indizível sem querer
Recuam as facetas mal logradas de sentir o engenho
esticar o vazio de si só preso pelo tamanho
O pêndulo soluçado que abandonado se entrega retornado
olhares perdidos ao vento colhidos em pensamento
Entregam-se ao abandono as imagens sem retorno
relógio incerto nesse eco por perto
pedras são quebrantes maldizentes na vida diferentes
luz que nunca encontro nesse caminho que definho
Invisível é o transparente nesse toque sem mão
espelhada a mentira nesse falsidade sem verdade
cansam-se os amanhãs por um dia nunca o serem
acabadas que estão as chamadas daqueles cujos sonhos tecem...
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Labirinto

A sós em mim, manejo o universo em verso
a janela sempre fechada em minhas faces deixadas
descortino os olhos naquele clarão sempre esquecido
o cego viver de existir sem me aperceber
As luas desventuradas, os sóis sempre apagados
o pensamento do sonhar o escuro que demoro a encontrar
labirinto desejado em tuas paredes nunca agarradas
esse sonhar amanhã de um dia sem manhã
Da blasfémia de amar o sexo igual ao meu
sem nunca estar confortado junto ao teu
procuro encontrar a perdição sem engenho em minha mão
a pérola mais luzidia dessa concha sem dia
Sonho sem sombra

O sonhado soluçar nesse remorso respirar
momento, vazão, augúria hora de em tempos descansar
restam os ínfimos acabados de um sonho perpetrados
apanágio das almas em meus sonos realizados
Sombra escura que me eclipsa o dia
me manobra os cantos, me seduz os recantos
apagado está o irreal sonhado em vida pensado
reflexão de uma hipótese de um dia ser vivido...
A lua despida que enegrece as folhas já escuras...
cor sem cor nesse deleite sem sabor
recôndita alma subjugada no cinzento retrato
recordação, pensamento, obscuro calar de um acto
Foge-me o querer, anseia-me saber para te ter
descodificar teus gestos súbitos na maré da imprecisão
longevidade que me agudiza sobejo vento vão
horas tardias no pensar a ver o visto já previsto...
domingo, 9 de maio de 2010
Lendas da Paixão

Dispo de medo o cansaço ausente
falta de sombra nesse escuro presente
o suor de quem clama por horizontes escondidos
essa procura entre segredos outrora omitidos
Sobre o cipreste da razão
folha podre prostrada em minha mão
a sede de anseio que sobre os olhos caminha
o mistério atrás das paredes deste céu
Devassam-se os desejos entre a pele gasta
marcada, fingida, sentida, perdida
o toque da pena nesse mastigar solúvel
de um segredo atrás nesse tempo visível
Entre as lágrimas da chuva pesadas
dessas mágoas de lamúria carregadas
o abraço do longe nesse apagado traço
a escrita sem cor nessas linhas sem dor
Despidas as árvores do calar nocturno
madrugadas as folhas nesse despertar repousado
as almas perdidas em solidão encontradas
nesse funeral de paixão de imagens criadas
domingo, 2 de maio de 2010
MEDO
Vivo amedrontado pelo medo de ter medo
pelo medo de ser medo e pelo medo que o medo me tenha
amedrontado sei que existo, porque do medo o medo persiste
medo do medo tenho porque do medo sei que tenho medo
Há em mim um medo de ter medo
de experimentá-lo, de senti-lo, de o tentar
tenho medo do medo que não tenho e que possa vir a ter
tenho medo do nada de nada ter e de tudo medo ter
Sou medo que vagueia e que medo tem de ser
rogo pelo medo, pelo medo de o medo não me ver
vivo com o medo pelo medo de pensar
morro sem o medo com o medo de o medo me matar...
pelo medo de ser medo e pelo medo que o medo me tenha
amedrontado sei que existo, porque do medo o medo persiste
medo do medo tenho porque do medo sei que tenho medo
Há em mim um medo de ter medo
de experimentá-lo, de senti-lo, de o tentar
tenho medo do medo que não tenho e que possa vir a ter
tenho medo do nada de nada ter e de tudo medo ter
Sou medo que vagueia e que medo tem de ser
rogo pelo medo, pelo medo de o medo não me ver
vivo com o medo pelo medo de pensar
morro sem o medo com o medo de o medo me matar...
sábado, 24 de abril de 2010
A era dos sentidos
Relatos esquecidos da memória abrangidos
escritos, tempos fingidos do nada erguidos
o passado que é hoje porque o foi um dia
esse momento logo que o futuro a demais adia
Perseguem-se os inauditos, os mudos de si já surdos
atormentam-se os calados do silêncio desprezados
apontam-se os expressivos que tudo dizem para nada fazerem
essa coragem de pernas tortas sem altura, sem estrutura
Enlouquecido, o tempo divaga o acontecido
despertada a loucura nos meandros da viagem
sem sentido soluçado confuso e guardado
esse tempo agarrado a que tanto me desagrado
E se os dias são horas a que os segundos crescem
as datas são viagens sem porto de abrigo
a terra jamais vista, por nunca ser contada jamais acreditada
do alto do sul, o quebrante do sonho no distante horizonte
escritos, tempos fingidos do nada erguidos
o passado que é hoje porque o foi um dia
esse momento logo que o futuro a demais adia
Perseguem-se os inauditos, os mudos de si já surdos
atormentam-se os calados do silêncio desprezados
apontam-se os expressivos que tudo dizem para nada fazerem
essa coragem de pernas tortas sem altura, sem estrutura
Enlouquecido, o tempo divaga o acontecido
despertada a loucura nos meandros da viagem
sem sentido soluçado confuso e guardado
esse tempo agarrado a que tanto me desagrado
E se os dias são horas a que os segundos crescem
as datas são viagens sem porto de abrigo
a terra jamais vista, por nunca ser contada jamais acreditada
do alto do sul, o quebrante do sonho no distante horizonte
sexta-feira, 16 de abril de 2010
Mórbido-Comum
Numa massa novelada de ideias mórbidas
eis que cantam as águas de sangue
nascente etérea que me cansa a leveza
do desnudo enleite o que me subestima a dureza
Queirando desbutar-me, enfim preclaro alcançar-me
agarrar o firmamento com as enxadas do tempo
quebrando o orgulho que em ousadia me queima
a desnuda mente que perpassa as marés do contratempo
Arremessei de madeira a vontade erguida
manobras fiz na minha alma certa e fingida
sombra que a realidade me cobre e em tudo me chove
e que ninguém do sonho me assusta o nada
eis que cantam as águas de sangue
nascente etérea que me cansa a leveza
do desnudo enleite o que me subestima a dureza
Queirando desbutar-me, enfim preclaro alcançar-me
agarrar o firmamento com as enxadas do tempo
quebrando o orgulho que em ousadia me queima
a desnuda mente que perpassa as marés do contratempo
Arremessei de madeira a vontade erguida
manobras fiz na minha alma certa e fingida
sombra que a realidade me cobre e em tudo me chove
e que ninguém do sonho me assusta o nada
Marca de ti...
Subterrânea intriga conscenciosa
projecta em minha mente pecaminosa
o augúrio, vasto terreno fértil de pecado
pousio atroz que me invade o ser amado
O ser beijado, de tão erótico, molhado…
o ser pecado de tão leve rogado…
o beijo triste tão melancólico em mim marcado
fugaz assente chamado no sexo vergado
O ser etéreo do mais invisível ao mais desprezível
preenche o vazio da realidade, a chama pura da verdade
de tão pequeno, o todo nada pela metade
que me desgastam nas pernas, os braços que suportam tal falsidade
projecta em minha mente pecaminosa
o augúrio, vasto terreno fértil de pecado
pousio atroz que me invade o ser amado
O ser beijado, de tão erótico, molhado…
o ser pecado de tão leve rogado…
o beijo triste tão melancólico em mim marcado
fugaz assente chamado no sexo vergado
O ser etéreo do mais invisível ao mais desprezível
preenche o vazio da realidade, a chama pura da verdade
de tão pequeno, o todo nada pela metade
que me desgastam nas pernas, os braços que suportam tal falsidade
o engano atrás dos dedos...
Atrozmente, roçamos os desejos no mesmo sangue
nesse entulho e desvairado sonho poético
que me encalça o mórbido de lama chama
sujo de sujidade no entulho que me faz a cama
O incomum pensamento que me atormenta o vazio
preenche de silêncio o rasgado desejado
fatal construção que destrói do mito a sensação
de quem se toma, por quem se diz…
Descontrolado, o etéreo musical desafinado
já si pelos versos chamado
acaba as estradas de meus esforços inúteis, por bem, por mal
o fim, o encalço do começado iniciado pelo final…
Passando a vida a enganar as minhas verdades
preenchendo-as de linhas vazias, silenciadas
rasgo o sexo do mais fundo o mais sexuado
do mais porco, o mais afrodisíaco bocado…
nesse entulho e desvairado sonho poético
que me encalça o mórbido de lama chama
sujo de sujidade no entulho que me faz a cama
O incomum pensamento que me atormenta o vazio
preenche de silêncio o rasgado desejado
fatal construção que destrói do mito a sensação
de quem se toma, por quem se diz…
Descontrolado, o etéreo musical desafinado
já si pelos versos chamado
acaba as estradas de meus esforços inúteis, por bem, por mal
o fim, o encalço do começado iniciado pelo final…
Passando a vida a enganar as minhas verdades
preenchendo-as de linhas vazias, silenciadas
rasgo o sexo do mais fundo o mais sexuado
do mais porco, o mais afrodisíaco bocado…
O velho-novo
Em ideais desvairados
quais sugestões mal pensadas
os olhos cavam a face imersa
estancados no fundo da uma tão dureza
Enrugado de preponderantes defeitos
perpetrados de curvas, esses fracos enleites
a face deixa que o tempo descanse
e que nas suas curvas o cansaço se canse
Cinge-se a verdade de um irreal conseguido
a realidade, essa, se existe não persiste
no desgaste já fundo de um esquecido infinito
que nasce do silêncio do horizonte emergindo em grito
Manejado está o enfeite do destino começado
já nada assinalado neste augúrio caminho parado
palmilhado os remorsos, queimado os destroços
conta do zero os cem que em tempos eram nossos
quais sugestões mal pensadas
os olhos cavam a face imersa
estancados no fundo da uma tão dureza
Enrugado de preponderantes defeitos
perpetrados de curvas, esses fracos enleites
a face deixa que o tempo descanse
e que nas suas curvas o cansaço se canse
Cinge-se a verdade de um irreal conseguido
a realidade, essa, se existe não persiste
no desgaste já fundo de um esquecido infinito
que nasce do silêncio do horizonte emergindo em grito
Manejado está o enfeite do destino começado
já nada assinalado neste augúrio caminho parado
palmilhado os remorsos, queimado os destroços
conta do zero os cem que em tempos eram nossos
sexta-feira, 19 de março de 2010
Na margem de ti... A.P.

Na margem de ti, ao pé de ti fiz-me assim
estátua erguida em teus braços adormecida,
pousio que acalenta minha alma nua e despida
naquele inquieto sabor vago provado em mim.
Dissabores gastos nos nossos lábios prolongados
murmúrios de tão amados e vividos, já calados…
a sombra do nosso encontro pelo beijo unido em nós separado
a memória já lembrada de um tempo nunca passado
Deleite, prazer nunca tocado
êxtase, toque jamais recordado
a pena que em mim se levanta e em ti se planta
qual dor, fulgor que cobre nosso amor
O tempo em nós vive sem nascer
canta aos sonhos, sem a voz erguer
o remorso culpado de um dito por dizer
a paisagem já pintada de quem nunca aprendeu a ser
Existência explicada (A.P.)
Raras explicações em que se fundamentam a minha vida,
deixadas diferentes a um igual já passado
inúteis entradas em que se abre a minha saída
talvez depois… um qualquer já tentado
Triste e inerte na sua forma
por quem se diz verdade em que as toma
deixada só, em tudo um pouco sentida
pousada inerte na minha maré afogada
Remoinho volteado numa manobra apertada
sob os buracos, essa razão que cobre minha estrada
fulgor, respiração apressada em si calada
levado ao abrigo já vivido daquele sozinho
deixadas diferentes a um igual já passado
inúteis entradas em que se abre a minha saída
talvez depois… um qualquer já tentado
Triste e inerte na sua forma
por quem se diz verdade em que as toma
deixada só, em tudo um pouco sentida
pousada inerte na minha maré afogada
Remoinho volteado numa manobra apertada
sob os buracos, essa razão que cobre minha estrada
fulgor, respiração apressada em si calada
levado ao abrigo já vivido daquele sozinho
No novelo do sossego
Recôndito e calmo sossego
calado pelos dizeres, desfeito pelos fazeres
agitado pelo pousio de um silêncio já findo
acordado, ao nada do todo de meu mundo
Surdo, vazando por um silêncio ouvido
que se distinga de outros sons já passados
o frenético soluçar de um olhar mudo
pálida sepultura de uns lábios entre si beijados
Latente eco que roça as estradas da minha mente
desvendado o segredo silenciado no momento acordado
lúcidas e pousadas horas de um vago presente
remorsos sujos de um qualquer então acabado
Partiram as desventuras de um longínquo já deixado
nas mãos do nada acabados, hirtos de olhar pesado
deixadas ao precipício de um qualquer acaso
momento que finda o nada pronto a ser aceso
Defronte, olhando o pálido insistir inventado
usado, em si mesmo já acabado
debruçado sobre o raro vulgar de tentativas deixadas
de todas elas sonhos de vidas passadas
calado pelos dizeres, desfeito pelos fazeres
agitado pelo pousio de um silêncio já findo
acordado, ao nada do todo de meu mundo
Surdo, vazando por um silêncio ouvido
que se distinga de outros sons já passados
o frenético soluçar de um olhar mudo
pálida sepultura de uns lábios entre si beijados
Latente eco que roça as estradas da minha mente
desvendado o segredo silenciado no momento acordado
lúcidas e pousadas horas de um vago presente
remorsos sujos de um qualquer então acabado
Partiram as desventuras de um longínquo já deixado
nas mãos do nada acabados, hirtos de olhar pesado
deixadas ao precipício de um qualquer acaso
momento que finda o nada pronto a ser aceso
Defronte, olhando o pálido insistir inventado
usado, em si mesmo já acabado
debruçado sobre o raro vulgar de tentativas deixadas
de todas elas sonhos de vidas passadas
segunda-feira, 1 de março de 2010
A mancha do meu corpo

O meu corpo emprestado ao tempo
minha vaga alma, doce contrasenso
remotas etapas de deixas levadas ao vento
irreflectido jogo de uma certeza feita hipótese
Trausente núcleo de que se abastece o mal
apanágio escuro de um êxtase total
vidas arrancadas ao sabor da amargura
cuja noite alisa em sono o que não dura
Perdida, na inconstância perdida
rogo por me curar da maré deixada
sonoro ritual que comanda cada dia
em cada uma, precária forma de magia
De mil homens, se faz o mundo
mas nem de um se faz o meu
a margem já passada, o poço já fundo
vida em mim que outrora se perdeu
O refúgio que de mim se escondeu

Preclaro por mim… ali
quais formas e texturas
quais rascunhos mal apagados
em sim mesmo finitos, em mim mesmo acabados
Direcção diferente em que vagueando caminho
estranha, sempre diferente nunca igual
destino que passo mas não sublinho
sombra incompleta que me amparas neste desigual
Embaladado no promíscuo vento da sociedade
deixado no rasto etéreo da verdade
meu desejo omitido, minha cobardia revelada
frase triste em meu mar velada
Cantam-se as entranhas de alguém
a história de quem passou mas não viveu
descurado jeito tão só, tão abandonado
de alguém que se lembra do dia em que morreu
esquecendo as horas tardias em que nasceu
A gota

Pesada, a gota cai ao de leve
inerte em suas tristezas e venturas a correr
tal desgraça que em minha paisagem vive
e que na poça de mim deixei abater
Apressada e angustiada, lamúrios e ecos
chega então o momento de findar
desconhece os rios de beijos secos
que nos séculos dos meus lábios formara
A última lágrima ou então sempre a primeira
de alguém que chora por nunca conhecer a verdadeira
deus chora, o homem afoga-se com o tudo para fazer
flutua a tristeza, afoga-se o nada por dizer
O que já foi dito em vão mergulhado está
o que já foi escrito para sempre rasgado ficará
só resta o frio, o teu murmúrio molhado
o segredo afogado a meus pés prostrado
Húmido, escorrendo o nada escondido
acariciado, olhando o que para lá ficou
imagens de um ser a ser beijado
o que sabe quem sou, mas desconhece o que formou
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
Solidão de meu lar

Velhas são as conformidades em que o lar nos impera a viver
paredes desgastadas que nos limitam somente a ser
objectos tornados sensação, ilusão, razão
do nada feitos construção, mera e desgastada disposição
O tempo perde-se na memória dos espaços
quão cortejante é minha vida sob esta caminhada
o quarto, a sala, a cama deixada
de todos eles, a leitura dos meus traços.
Revolta sensação que me abarca nesta solidão
onde estou, o que sou, o que farei
gaiola, masmorra, aberta prisão
ao que ao vida dei, no que da vida deixei…
Preponderâncias de um olhar já visto
cego caminho, porque de cor sei que existo
já fui mera porta, rígida e abandonada
já fui mera janela, disponível, aberta, largada
O roçar, o tocar na evocação dos meus pensamentos
pó, brisa agreste que suporta meus móveis
delírio cansado de tão usado já trocado
memória sempre igual, de tão vasta já vulgar
O cheiro, esse perfume do meu pensamento
tribunal dos meus julgamentos, desgastes quentes do momento
colunas vergadas sobre mim suportadas
abandono silencioso de um todo ruidoso.
terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
Underworld

O cheiro imundo da desgraça
pandemónios de uma farsa
caos crescente de pavor
resumo drástico de uma qualquer dor
Inspiração para uns
rios de memória para alguns
pensamento revolto, desgaste que envolto
falésia caída, alma levada
Silêncio feito confusão
inerte presença da destruição
cinzento, ruído agreste
negro, que em mim nasceste
Procuro por quem já não encontro
grito por quem já está silenciado
durmo sobre o teu corpo deitado
estrada pálida de sangue lavada
Narciso, a cor do pecado

Perdição, augúrio destino que me encontrou
qual Deus que sob mim se criou
arquitectura rígida de uma tal beleza
de todos os defeitos, o de mais abundante riqueza
Plátano fogoso que sob mim se envolve
trascendente fulgor que sobre ti chove
etéreo beijo que a Afrodite recusei
nuvem escura em que outrora me deitei
Sobre ti, criada a desgraça
semblante pálido da tua graça
qual atracção, qual amor por ti sentidas
qual desejo, qual sexualidade em ti omitidas
Orgulho, desprezo raivoso que inundou meus dias
natural pecado de se nascer nas noites frias
Qual Téspias, qual Beócia em mim juntas
presságio divino que com o pecado me pintas
Reflexo cintilante que as portas do olhar abriste
qual ego louco que em mim me viste
oxalá pudesse evitar meu pasmar
para jamais no lago me debruçar
Encontrei o amor sobre mim
sobre mim não encontrei o que quis, o que perdi
lago de cetim, pose de marfim
para sempre serei estátua de mim… ali
Transformado em flor, marca de horror
pecado funesto de uma alma fastidiosa
existência que me compadece de dor
para sempre serie exemplo de tal alma orgulhosa
Aquiles

De nariz aquilino
sob uma planície de cor e odor
qual néctar dos deuses, qual ritmo sem cor
transgredia o feio, ultrapassava o belo
engendrando suas formas sob o meu elo
Helénico nariz de tons magistrais
Deus entre os homens, um herói entre os tais
Qual Ulisses, Adónis ou Zeus
de todos eles o mais completo Deus
O queixo, almofada macia e pálida
adornava o mais sonhado dos orifícios
cuja graça expandida encantava
sonho, realidade, pecado que no Olimpo ofuscava
Os ombros, sepultura do mais fino marfim
suportavam a mais formosa das feras
O pescoço, tronco do paraíso mais vasto
instinto erótico que nos peitos se resguardava
cortinado de cetim, esferas róseas
peito alvo, rosas eróticas
Descendo, tentavam-se as planícies do desejo
ciprestes que aguardavam o verdadeiro beijo
num pequeno e doce lago
qual orifício, qual umbigo
a beleza de uma Afrodite, a perfeição de um Iago
Numa vasta e frondosa nascente
pêlos macios de um rico veludo
novelo de memórias num passado agreste
cetim, marzia, folha verde do meu tudo
Protegido sob o trevo do azar
quais desejos que no meu pensamento hão-de passar
quais evocações que meus pensamentos hão-de clamar
quais fluidos que sob a minha boca hão-de ficar
Verde e ofuscante, ocultava o fruto proibido
de todos o mais querido, dos pecados o mais apetecido
cabana que meu pensamento há-de povoar
oceano que minha consciência irá afogar
As pernas,
troncos que perfilhavam o aveludado helénico
colunas clássicas, obras eternas
coríntio, dórico ou jónico
A água que corria em seu corpo molhado
suor, fluído ou vinho rosado
cobria o seu destemido e místico calcanhar
escultura de mármore que tudo vale apreciar
Os pés, asas de águias ou condores
clássico helénico que eterniza passados
hirto calcário que em ti se toma
obra de arte que sob ti se forma
Quem o fizera nascer para a outros invejar?
Quem o fizera viver para outros matar?
Deus, Diabo, escultor ou pintor
de todos o mais perfeito senhor
Do Éden, o fruto a ser colhido
Da Babilónia, a rosa a ser roubada
De Roma, a arte de tudo, a eloquência de nada
Da Grécia, o desejo tentado, o Deus criado.
domingo, 14 de fevereiro de 2010
Marinheiro de meu mar

Deixado no tempo, esquecido
lembrado em tempos perdidos
no infortúnio vago esperado
de um destino vazio, acabado
Lembrado sob o toque fino de sal
melodias tristes, prelúdios de mal
a raiva sob as areias deitada
a fúria espumante nas marés deixada
As marés fazem-te emocionar
recordar pensamentos deixados, sentimentos levados
as gaivotas ilustram o teu voar
as gotas, pequenas marés sob o mar
Vento pálido em tuas faces lembrado
águas gélidas, em teus dedos marcada
nos lábios a cor do sal
nevoeiro frio, olhar vazio
marinheiro de uma vida tal
sábado, 13 de fevereiro de 2010
Mórbido prazer de amar

Vagueio na incerteza da descoberta
no indizível provado, mais que tentado
nuvens de fumo de uma janela aberta
paredes de uma nada por dizer
Inquietação visível de um esboçado incerto
algo por provar, realidade, momento certo
instante de precisão, loucura, emoção
pensamento, desgaste que abarca meu coração
Mórbido prazer de amar
sensação estranha que me faz acreditar
remorsos de um nada confuso
sensação de um tudo enorme
somente vivido enquanto dorme…
Perdi a a minha vaga existência
um desprezo vago pelo vivido
Aprendi a contemplar-te
habituei-me a sofrer por amar-te
Acredito que a esperança não morre
que nas veias dos apaixonados corre
Sei que um dia te poderei ter
nem que seja para morrer a viver
Um dia talvez
Um amor impossível, possível de ser sonhado, impossível de ser vivido...
Hoje não sei de mim próprio,
da minha pessoa, do meu ser opróbrio
das angústias que me fazem feliz
das alegrias que me fazem triste
Das palpitações que me inquietam
das orientações que me perdem
desejos que me afogam
perdições que me salvam
que me libertam da memória de um tudo
infastidioso sonho de nada
Quem quer que um dia fosse
não sei se teria existido até agora
vivendo invisivelmente em nadas…
Um dia talvez
lembrar-me-ei de voltar a ser
Um dia talvez
esquecer-me-ei de pensar que existi
que vivi, amei, sonhei a viver
Um dia fixarei só aquele instante
desprezando todos os outros
que inutilmente ficaram por viver
Lembrar-me-ei talvez de conseguir voltar a ver
não aquilo que ficou pensado, imaginado
mas o que ficou sentido, tentado, vivido.
Hoje não sei de mim próprio,
da minha pessoa, do meu ser opróbrio
das angústias que me fazem feliz
das alegrias que me fazem triste
Das palpitações que me inquietam
das orientações que me perdem
desejos que me afogam
perdições que me salvam
que me libertam da memória de um tudo
infastidioso sonho de nada
Quem quer que um dia fosse
não sei se teria existido até agora
vivendo invisivelmente em nadas…
Um dia talvez
lembrar-me-ei de voltar a ser
Um dia talvez
esquecer-me-ei de pensar que existi
que vivi, amei, sonhei a viver
Um dia fixarei só aquele instante
desprezando todos os outros
que inutilmente ficaram por viver
Lembrar-me-ei talvez de conseguir voltar a ver
não aquilo que ficou pensado, imaginado
mas o que ficou sentido, tentado, vivido.
A....
Qual beleza sob teus olhos admirada?
Qual árvore sobre ti criada?
Qual desejo sobre ti exposto?
Qual prazer sobre si morto?
Amor, paixão, loucura
sedução, vaidade, frescura
Existência, vivência, morte
elegância, vingança, esperança
Sobre ti nascida,
Sobre ti criada
êxtase fatal sobre ti criado
teatro de um amor oprimido
Figura morta, paisagem exposta
beijo, mágoa, desejo
arte, loucura, amor que parte
infortúnio de um qualquer ensejo
Qual árvore sobre ti criada?
Qual desejo sobre ti exposto?
Qual prazer sobre si morto?
Amor, paixão, loucura
sedução, vaidade, frescura
Existência, vivência, morte
elegância, vingança, esperança
Sobre ti nascida,
Sobre ti criada
êxtase fatal sobre ti criado
teatro de um amor oprimido
Figura morta, paisagem exposta
beijo, mágoa, desejo
arte, loucura, amor que parte
infortúnio de um qualquer ensejo
domingo, 24 de janeiro de 2010
WISHING YOU WERE SOMEHOW WERE AGAIN
Foram tantas as palavras, as frases rasgadas em agonia, os traços incontidos esboçados na incerteza…
Numa qualquer noite acordado
Sob a noite acordado,
Sob o dia adormecido
remorsos de horas passadas, segundos acabados
vagas de sonhos na noite acordados
Íntegra força que tens
Magia, fascínio, ego que deténs
Loucas vidas numa só noite
repuxos de uma tal fonte
Os lagos formam-se nos olhos da alma
nos narizes, as colinas de nada
a testa, terra em que assenta a razão
a boca, pedra de toque do coração
Objecto, estátua de afecto
pequena recordação que os meus recantos guardaram
lençóis puxados, sentidos, lembrados
poesia surda que teus lábios evocaram
Levemente
Levemente, à espera de alguém
num invisível, pálido de ninguém
beijo tristes, lábios postos
alma fria, corpos soltos
Espelho vazio, vidro partido
imagem viva de alguém perdido
memória presente, passado que sente
oculta imagem que me pressente
Silêncio, brisa, sombra
frio, quente, gélido
memória, passado figurado
presente, momento assombrado
Vaidade, intriga, ciúme
percorrida a montanha, chegada ao teu cume
desejo, fruta, tentação
beijo quente, eterna perdição
Deixo-me levar pela arte de sentir
vivo, no desejo de te servir
seguro o teu corpo cansado, deitado
apoio a tua alma fria, vazia...
És a força na fraqueza
o racional da mera estranheza
Rosa vermelha, espinho dourado
beijo roubado, corpo marcado
Mármore da face escultural
Dedos gélidos, entorpecidos
gastos pelo peso da existência
ombros vergados, deixados cansados
sentimentos reflectidos, outrora adormecidos
Gélidos, neutros, abandonados
à espera de sonhos terminados
os olhos cobrem com o nada o tudo da vida
o mármore da face escultural
fruto do nada, mero ideal
Corpo transgrido de prazer
alma de todo o meu ser
memória abandonadas, recolhidas, deixadas
ilusões perdidas, horas vividas
Angústias, desejos, medos
outrora afortunados, agora torturados
imagem, recordação de tempos perdidos
meras palavras de sonhos esquecidos.
Black Rouge
Desliza, fixa, produz
a arrogância, traço da maturidade
abandono daquela atitude
o sexo, doce juventude
Marca de veludo o animal selvagem
ocultando-lhe o toque de virgem
corda num relógio abandonado
motor do sexo estragado
Atrevida e inusitada prepotência
saliva gasta, hálito cansado
discurso corporal, murmúrio gritado
perna aberta, olhar que afecta
Ontem, Hoje, Amanhã (A Impossibilidade de te desejar)
Agarras o meu corpo cansado
Naquele lugar estranho, inusitado
Transferes a tua alma para a minha
Ó bem nascida esperança
Naquele lugar escondido e diferente
Imagine-te, Desejei-te, Tentei-te
Observando a tua imagem, apagada... distante...
Perpetuei-te no meu ser
Erguendo-me, perguntando-te com o olhar
Durante o tempo em que tiveste apagado, a ver
Remoendo na existência triste, a olhar
Ontem, hoje, amanhã...
Havia murmúrio quente na tua imagem
Entrando em mim desejo de tal essência
Naquela penumbra, alta miragem
Roubaste a minha tardia existência
Intrigando-me o pensamento
Qualquer sono ou momento
Último beijo
Em ti...
Levantei-me naquela manhã
Ultimo sono de um amanhã
Íngreme colina em que desejo cair
Sentimento inquieto, emoção ao partir
Senti o teu corpo molhado
Inspirei o teu espírito cansado
Lamentei a tua imagem
Vagueando nos meandros daquela viagem
Agora... Ontem, Hoje, Amanhã...
Viagens de uma puta
Olhar estranho e cansado
pronto a ser penetrado
aparência triste, olhar em riste
olhos marcados, lábios cansados
Forma crua de vida,
a mais antiga, a mais primitiva
paixões, fraquezas de um nada
corpo transparente cujo sexo activa
Pensamento neurótico, momento erótico
carência individual, êxtase total
vida marcada, agonia partilhada
consciência impura, dor que dura
Estrada comprida, perna esculpida
imagem desfeita, existência feita
caminho cansado, corpo masturbado
toque fino de prata, desejo que mata
Nascida para amar, criada para provocar
máquina de destruição, erótica respiração
cabelo desgrenhado, momento marcado
fogo que chama, animal de cama.
Rainha de almofada, boneca estragada
cruz pesada, inocência tapada
maçã tentada, puta deitada
As linhas do corpo cansadas
servidas para serem marcadas
objecto de servir, natureza de esculpir
sonho morto, sexo posto
Cinzeiro de desgaste, loucura que erraste
fonte de prazer, desejo de viver
encontro marcado, sexo tatuado
corpo tentado, corpo sexuado
Back to Black
O acordar da existência
o remoer da inocência
ingenuidade vadia
bravura de dia
acções, espaços de tempo inusitados
loucuras desfeitas, desejos tentados
A pureza do nu,
arrogância de roupa mal lavada
feito objecto, caída...
feito desejo, metida...
Respirações, fluídos sonoros
tela abandonada, imagem habitada
arrasto suportado, sono inalado
estrada comprida, caminho cortado
Bebida fria, louca agonia
beijo quente, olhar que sente
perna que move, perna que sobe
face marcada, face beijada
O que sou, o que ficou…
Escritor já o era, poeta ainda não
sabia de cor a vida mas desconhecia a sua arte
tinha consciência da lógica, fruto da razão
e tudo pensava que dela fazia parte.
A caneta e o papel eram o meu mundo
hoje são apenas pedaços rasgados de pensamento
meras ilusões, recordações de fundo
paisagem negra, colorido cinzento
Na memória tinha a cor do vento,
a estranheza do nada
Hoje tenho as sensações,
a outra face da vida.
A memória falada da tua imagem
O louco horizonte da tua miragem
Movimentado e agitado era
calado e pensativo hoje sou,
começou o desejo, acabou a guerra,
qualquer sonho daquilo que ficou.
Tenho no pensamento a tua respiração
violino melodioso de uma canção
caixa de pensamentos, caixão da tua imagem
horas passadas de uma longa viagem
Eras o mar que rondava, a brisa quente no ar,
a erva arrancada, a terra estragada
o vento quente, a areia molhada
o perfume no ar, o cheiro ao ficar.
Padeceria de medo, angústia, sofrimento
se te arrancasse do mais vivido momento
os teus olhos, o meu guia da noite perdida
a nossa existência, a minha vida, a tua partida…
Reflexo sonhador, reino protector
Inquietude vasta, momento frio, horizonte marcado
dedos esquálidos sobre a face pálida
expressão tímida, olhar desgrenhado
qualquer sonho ou momento acabado
Haja quem houvesse tido
e no silêncio vago mantido
a estranheza e a face de outrora
desejo ou tentação de um vago agora
Utopia das palavras, desenhos de nada
linha esquecida, letra lembrada
passagens fortes de uma qualquer fraqueza
tentações da tua cativante estranheza
Árvore da vida, fruto roubado
um qualquer desejo outrora tentado
folha secas e podres de uma paisagem
imagens marcantes de uma mensagem
Reflexo sonhador, reino protector
porta aberta, janela fechada
vida marcada, vida destinada
perfume original, essência de dor
Melodias que crescem, ritmos que florescem
corpos agarrados naquele nu cansado,
erotismos de palavras que nascem…
tez marcada, beijo dado
Banheira de inconstâncias
Mexo, remexo, observo…
as águas, fluídos da tristeza que chove
A fluidez incessante com que ela se move,
o caos confortável que ela provoca
a vida que ela evoca.
Quedado, usado, estragado
o corpo desfaz-se num intermediário de convulsões
num incessante e vasto sonoro
de uma existência que devoro
Calmas são as águas, enérgicas as marés
mortas são as pedras, movimentadas as terras
invisível é o vazio, visível é a luz
uma energia que se movimenta, desfaz, seduz...
Afogo os sentidos com o vício da virtude
o cigarro, o absinto daquela juventude
cubro as intenções num mar de cinzas
deixando-as viver, flutuar, partir…
Olhamos o quebrar da calmia e o nascer da fúria
acordando-me a mim próprio, acordando para a vida.
A banheira, esse poço que carrega o meu ser
cuja alma esfria, molha, mas não lava
não desfaz a sujidade ao nascer
nem suporta os meus ventos ao padecer
A perfeição da noite
O destino é silenciosamente incerto
mas mais incerto é o vazio
o sentido frio do momento
e a imensidão estranha do nada…
O silêncio é um enigma
cujo mistério o determina,
o medo um desejo
e a sensação um receio
O som substitui a palavra
a reflexão dá lugar à inquietação
a angústia abraça o sofrimento
e a alegria morre no tormento
O rio grita no seu azul profundo
a inexistência quebrada do seu mundo
As flores dançam no seu eterno sentir
sob o anseio de a sua natureza esculpir
O céu aclara o prazer
sobre o negro em que paira a chuva
e os sinos da existência que no passado ressoam
findam num prelúdio de sons que voam
Tela adormecida
Quadro vazio, tela adormecida
pincel vivo da imagem denegrida
pensamentos cheios, imaginação vazia
sombra pálida, cor fria
Sob tumores de uma tinta escondida
recordações de um outrora esquecido
paleta de cores num dia acordado
imaginação, sentido abandonado
Vazio, vazio, vazio
loucura desajeitada, desgastes em redor
Instinto, raiva, pormenor
Borrões de uma mancha apelidada vida
círculos de tudo, linhas de nada
O acordeonista francês
Ao longe num beco,
agrestes melodias que soam em eco
notas soltas, acordes repousados
teclas leves, dedos pesados
De boina e de jeito feito
sentado na penumbra de uma escada
som sussurrado nascido no peito
praça, esquina ou estrada
Era pequenino, mas conhecia a vida
aprendeu-a nas esquinas, vozes do passado
ouvia-a nos silêncios de um outro lado
nas vozes da gente, nos murmúrios de nada
Calça rota, camisola solta
aspecto frágil, inocência fácil
dedos surdos, ouvidos mudos
assim se fez acordeonista francês
Encantava pela sua face
seduzindo qual ponto onde estivesse
apaixonava turistas e gentes locais
amava na vida segredos tais
Tocava sozinho, de si para si
no seu toque, pose astuta
eterna infância adulta
Conta a vida com os dedos
triste, de sorriso na boina
desperto, vagueando nos seus medos,
perde-se em harmonias, estranhas melodias
O tilintar das moedas acordam-no
Vagas palmas, os aplausos chamam-no
As belas tristes canções chamam-no
as melodias da vida transformam-no
Abandonado permanece
silencioso, no seu gritar melodioso
carente, distante, diferente
acordeão, silêncio diferente
O acrobata
Num palco surdo e escuro
escondido sob uma cortina de raro negrume,
o vazio dera lugar à beleza
e a tua presença à mais perfeita das perfeições
Estendido sob o nada de um arco
voaste para o alto do meu olhar
o teu corpo brilhantemente se expressara
e a minha mente sob o teu crepúsculo nascera
A forma do teu movimento
A rara precisão do teu gesto
A elegância da tua arte
e a energia do teu sentimento
Não sei o que és…
Pecado, virtude ou qualidade
apenas sei que reconheço em ti o espectro…
e no teu dom o delírio da liberdade
Sob um foco incandescente de luz,
desenhei na minha mente o teu corpo
reconheci-te a expressão do olhar
e à imagem que me seduz
Tatuei-te no meu espírito
Marquei-te no meu coração,
ilustrei-te na memória
perpetuei-te a solidão
A diferença
A diferença começa na indiferença
no descobrir permanente da verdade
numa incessante e dura busca
levada pela maré da incerteza
O refúgio torna-se na solução
o olhar num mero e eloquente desejo
a sensação num mistério
e o sexo em êxtase fatal
A angústia agudiza-se
o sofrimento intensifica-se
a vontade torna-se doença
e o suspiro um desabafo…
As lágrimas são a melhor manifestação,
lágrimas silenciosas e frias que cruelmente vertem,
lágrimas que queimam o coração fatigado
e esfriam o espírito já gasto, sentido, repousado…
A culpa
Dor interior, agonia superior
medo incómodo, sofrimento chuvoso
a luz da consciência ilumina-a
e a mágoa da alma fortalece-a
A intemperança prende-nos,
A raiva de hora a hora desfaz-nos,
Os olhares queimam-nos como fogo
e voam as cinzas num desprezo silencioso
Não te prendas ao presente
rende-te ao passado e perfilha o futuro
os olhos da alma, esses…
são os que guardam a memória recente
e a visão do grito do sofrimento
o que menos ilude o pensamento
Sonho
Devagar, misteriosa e silenciosa
assim entraste de rompante na minha mente,
feriste-me melodiosamente o silêncio
e findaste com a acalmia que de mim se apoderava
Calada, nua em toda a tua essência
assim me presenteaste
sob o branco puro e virgem da tua existência,
sob a alma que me deixaste
Segredaste-me, suspiraste e falaste-me…
Afogando o teu corpo sobre o frio
acordaste-me com a perfeição do teu brio
e num mar de ébrio transportaste-me
Adeus
Naquele recanto obscuro
frio, gélido e escuro
contemplei a tua imagem
e deixei-me levar pela miragem
Estavas bela, perfeita e encantada
oculta sob a estranheza de uma nada
Culpava-me pelo desejo de te deixar
e pecava de por ti não chorar
Roubaste-me a cor da respiração
e a solenidade daquele dia vão
e o sangue que outrora nas minhas veias corria
dera lugar à mágoa, findando a saudade que havia
Quem me dera ver-te antes do teu findar
quem me dera antes de o sexo acontecer
poder vislumbrar de novo a tua fragrância
acariciar-te, beijar-te, desejar-te
e contigo partir no negrume da existência…
Absurdo
Entre o ridículo e o nada
entre o imperfeito e o sóbrio
no meio da demência e do desvario
e o no fim do raciocínio puro
De pequenos olhos castanhos
a minha negra visão cravaste,
o meu pecaminoso pensamento cessaste
e no mundo do estranho entraste
O nada aperfeiçoou-se com o infinito
e a razão com a lógica persistiu
O feio nasceu do bonito,
a loucura reviu-se na estranheza
e a extravagância no limite da fraqueza
Para além da morte
O horizonte que do Além corre
tornando-se longínquo ao padecer
paisagem fria que eternamente percorre
pautado pela incerteza do ser
As montanhas, descrevendo o sofrimento
Aliam-se na angústia e na dor presentes
De um oceano angustiante nasce o tormento
que apaga o racional louco que sentes
Ao interiorizar os gritos de dor
que num espaço imerso se fazem ouvir em eco
Estremeço na inquietude de um tal beco
onde não há saída nem para amar
nem para na tua alma jamais entrar
Com vontade de os alcançar, de os povoar
morro na maré espinhosa do teu amar
A última lágrima
Numa corrente de desespero infinito
que de forma ardente agride a alma
a mágoa arranha o espírito
e o silêncio ressoa em grito
Outrora com a alma pudesse clamar
que o infinito que me tortura e persegue
morrera sozinho… e triste a chorar...
triste como o destino a que ele se apegara
e triste como quem dele se apoderara
Cego fora…! Cego fora…
Para meu olhar não acorrentar
e silencioso permanecera
para em meu consciente não se expressar
O desgosto apressa-me o movimento
O nada desfere-me em silêncio
A brisa em suspiro se torna
e a hora em infinito se transforma
Louvo por um dia mais te voltar a tocar
Flamejo por dentro por outrora te deixar levar
Peço ao nada para me tornar como ele
permanecendo sem ti ao lado dele.
Escuto o silêncio eterno que a minha alma faz ressoar
e clamo por ti sob a penumbra a olhar
Levas-me ao exagero do incondicional
ao limite máximo de um mortal
à maré de raiva que me descontrola o ensejo
e que te torna no mais ambicioso desejo
Paixão, um ego tortuoso
Foi naquele primoroso olhar
na nostalgia fúnebre do meu ser
que a angústia opressiva do teu falar
me fez cada vez mais sentir… esmorecer
O véu negro que possuis e espelhas
reflecte um coração quente, mas abandonado
Não sei se é ilusão, sonho ou realidade
Não sei se sinto desejo, desprezo ou vontade
Apenas sei que esta névoa escura
Preenche o vazio que no meu peito dura
O pânico invade-me os pensamentos
A dor transforma-os em tormentos
As lágrimas em desespero
e o olhar no fogo de que me apodero
Emanando do túmulo do meu ser
observei a tua imagem ao perder
desaparecendo em ventos contrários aos meus
e desfazendo num sussurro o murmúrio do adeus
Ó divina e frágil Heresia
momento celeste que minha agonia derrama,
solta-me deste castiçal de agonia
que no meu cadáver dolorosamente inflama
Ira lasciva que me apagas a toda a hora
e que numa noite fria me acordas caído
Coloca-me no mausoléu de um tempo indefinido
e solta a dor que no meu âmago implora
O vento que ao longe sussurra e declama
suplica o ego que no momento transparece,
desamarra-me desta Ária sofrida que proclama
e que na noite fria enegrece e a minha alma oferece
Fantasma da minha presença
Encontrava-me eu pelas ruas da solidão
Ao som do forte vento e da grande desilusão
Não tinha nada. Não tinha ninguém…
Só a visão do longínquo horizonte e do distante Além
Estava sozinho….
Estava só entre o mundo que me acompanhava
Não tinha rumo. Não tinha caminho
Tinha apenas uma força que me acompanhava
Cada passo que dou um sofrimento
que abrindo a ferida existência
se prolonga no mero pensamento
desenhando a imagem da tua essência
Sou um fantasma da minha presença
seduzido pelo poder da solidão
Amante de desejos e de beijos
loucas vagas de existências… mera doença
Príncipe Negro
A profundidade que a tua imagem dura
abunde na impetuosa paixão que perdura
na qual a luz eterna da sua imagem
me prende ao sofisma que me consome.
A mágoa que na minha consciência ressoa
escurece o trémulo clarão,
brisa quente do meu coração
Desejo vago que me invade a mente, o entendimento
e que me ofusca a incerteza do pensamento
O destino é um momento incerto
ladeado pelas armas dos homens
cuja vida e lágrimas por perto
afogam os nossos corpos no deserto
A vida é como uma colina
declinada perante a ambiguidade dos seus momentos
que de forma desmesurada florescem
e repentinamente esmorecem
Amor… Sentimento ambíguo
Lírio sentimento esse
que vivendo nas asas da criação
ondula num ambiente perfeito
e me deixou cair, adormecer
Construindo a imagem fria da minha essência
oscilo no seio da minha consciência
e embebendo-me das minhas emoções
afogo-me sob a tuas perdições
Estremeço ao contemplá-la
e esmoreço a esquecê-la
Acordo ao senti-la
e morro ao perdê-la
morro…
Morro sobre o orvalho da minha existência
e entro ébrio num mundo perfeito
num mundo onde predominam as emoções
e o mais absoluto dos sentimentos
O Amor… O amor…
Requiem
Ó tédio sublime que me consomes
Ó ira lasciva que me adormeces!
Solta-me desta inquietante prisão
e lança-me para a pura perfeição
Negro momento de carmesim
não sei se és sonho ou se pesadelo és,
apenas sei que ínfimo do inconsciente
Aclaras a longínqua e dura realidade
Vigilância essa do destino
que me ardes a nobre existência
lança-me pela vida como um libertino
e exibe-me a verdadeira essência
Ó flanco que me oprimes o coração
Ó fúria que no meu corpo inerte
Emite a tua natureza longínqua
e desaparece do meu já consumado corpo
Desejo sombrio
Foi nesse contexto obscuro
outrora o meu doce refúgio
que recolhi no meu duvidoso olhar
a chama imensa do nosso amar
Tão luzente era a forma do teu corpo
e tão imensa era a beleza que continhas
somente o meu eterno e desejo sombrio
pontifica o amor que por ti irradio
As árvores dançam jovialmente
Os pássaros alegremente cantam
Jamais o sentimento em mim latente
apagará a eterna e angustiante fogueira
que os nossos corações suplantam
Precária forma de ser
que eternamente me irás falecer
solta-me desta impaciente loucura
e lança-me no caminho da bravura
Tenho inveja de uma pena….
Franca e ténue como o ar
desejava eternamente poder voar
para me soltar desta alma que me condena
Sou como um velho barco
preso às amarras do quotidiano.
Desejava um dia poder soltar-me
e tornar-me puro…
puro como só o vasto oceano consegue ser
Dama de Negro
Angústia presente em noite escura
que me causas a dor que perdura
dá-me uma oportunidade de vencer
e de o amor poder ter
Solta a minha alma penada
e completa-me com o amor ausente.
Deixa-me perfilhar esta dura caminhada
e possuir esse teu amor ardente
A chama que desta paixão dura
coloca-me num estado de loucura
fria, angustiante e presente….
E transporta-me para um estado decadente
Ó Dama de Negro
que nessa capa escondes o teu sentimento
deixa-me povoar esta força que integro
e poder acabar com esta paixão que alimento
Porque o fazes?
Porque não despes essa dor?
Porque não expressas o amor que trazes?
E sais desse inferno sonhador?!...
Só tu possuis a essência
a perfeição em imagem e em expressão…
Só tu fazes do amor uma beleza
e do sofrimento uma conclusão
O Acontecimento
Na penumbra sólida de uma janela
Esconde-se perante a brisa fria
Uma luz presa numa vela
cuja chama do Inferno atrai e dura.
Os pássaros alegres e contentes
Deixam de produzir a mais bela melodia
As cores dos campos verdejantes e distantes
desaparecem no infinito da imensidão
E eu, assistindo àquilo tudo
permaneço resistente em relação à dor
à dor que permanece negra,
mas distante…
E que aparece do profundo além
e desaparece no distante horizonte.
O Belo violoncelo
A mulher é como um violoncelo
as muralhas de um castelo
a bravura de um rio
a elegância de um pavio
O charme, a beldade, a formosura
o encanto, a harmonia, a estrutura
isenta de um brio espanto
uma imagem de encanto
tudo nela sobressai até ao ínfimo recanto
Aquele objecto chamado vela
A vela apaga-se, a luz acende
finda a calma, findo o restauro
memórias inusitadas, pensamentos quebrados
curvas rasgadas, provas dilaceradas.
Decidi olhá-la de frente
enfrentar a luz mais verdadeira que alguma vez sentira
a transparência limpa de uma alma virgem
a minha existência ardente, a minha confindente
Era tão calada nos seus dissabores
tão ingénua nas suas tentações
a mais pura e simples das visões
a brisa escondida nos becos, a verdade nos arredores
Era pequena, inusitada mas propositada
a folha verde numa árvore de Outono
o monumento na ruína abandonada
a cor preservada no recôndito fauno
Revelou-me sentimentos, desejos, emoções
de uma vida curta, distante, sentida…
deixada ao propósito de uma existência calada
e de um corpo que começa a morrer ao nascer
E, vendo-a calada a meus pés, com um raio de luz
desfeita de tudo aquilo que era e do que queria ser
questiono-me sobre a minha caminhada
longa, distante e apagada…
Lisboa
Lisboa, cidade que me viu nascer,
que me viu crescer e me irá ver morrer
Cidade cujo preço que lhe devo é maior que o Mundo
porque se não fosse Lisboa, de nada seria oriundo
Cidade essa, que também é capital
de um lindo país de nome Portugal
que já foi dos mouros e que agora é nossa
e cujo nome e cultura por todo o lado perpassa
Lisboa, cidade da luz e do engenho
Pérola do Mediterrâneo e de além-mar
Cidade de grande trabalho e empenho
e de umas calçadas de fazer chorar
Só tu possuis aquele encanto peculiar
de planícies, vales e um mar que sobre as tuas terras descansa,
o castelo, os monumentos e os museus de fascinar
e uma beleza que jamais algo alcançará
Antiga Olissipeia de lendas e narrações,
nasceste, cresceste e evoluíste…
Tornaste-te mulher, fizeste-te guerreira e agora és rainha
e jamais cidade alguma te poderá igualar
Aquela arqueóloga
Escavas o meu interior, descobres a minha dor
sou a tua descoberta, a minha janela aberta
Preenches agora a minha vida vazia
debaixo da terra, junto à praia fria
Teus olhos verdes de mar
A tua pele pálida como o ar
pegaste-me no calor da tua mão
e nela descobri a minha razão
Sob o frio gélido de Inverno
acaloravas o teu coração na minha mão
comigo brincavas, datando-me na história
contigo ficava, sob o desejo de qualquer memória
Vergada sobre mim,
sorrias e acordavas ao descobrir
que mais que uma estátua de madeira e carmim
sou o teu objecto de sentir
Escondido sob uma qualquer recordação
de coração adormecido e enterrado
ansiava por sentir o toque dos teus dedos pálidos,
a sua cor, a textura, a vibração…
e nos teus olhos afogar meu coração
-Vida: Achas capaz de levar a bom porto as ideias que tens?
-Poeta: Não. Prefiro que fiquem enterradas na mais funda das terras e o que o mar as faça fluir, o ar as faça emergir, mas não eu, nunca eu, jamais eu...
Numa qualquer noite acordado
Sob a noite acordado,
Sob o dia adormecido
remorsos de horas passadas, segundos acabados
vagas de sonhos na noite acordados
Íntegra força que tens
Magia, fascínio, ego que deténs
Loucas vidas numa só noite
repuxos de uma tal fonte
Os lagos formam-se nos olhos da alma
nos narizes, as colinas de nada
a testa, terra em que assenta a razão
a boca, pedra de toque do coração
Objecto, estátua de afecto
pequena recordação que os meus recantos guardaram
lençóis puxados, sentidos, lembrados
poesia surda que teus lábios evocaram
Levemente
Levemente, à espera de alguém
num invisível, pálido de ninguém
beijo tristes, lábios postos
alma fria, corpos soltos
Espelho vazio, vidro partido
imagem viva de alguém perdido
memória presente, passado que sente
oculta imagem que me pressente
Silêncio, brisa, sombra
frio, quente, gélido
memória, passado figurado
presente, momento assombrado
Vaidade, intriga, ciúme
percorrida a montanha, chegada ao teu cume
desejo, fruta, tentação
beijo quente, eterna perdição
Deixo-me levar pela arte de sentir
vivo, no desejo de te servir
seguro o teu corpo cansado, deitado
apoio a tua alma fria, vazia...
És a força na fraqueza
o racional da mera estranheza
Rosa vermelha, espinho dourado
beijo roubado, corpo marcado
Mármore da face escultural
Dedos gélidos, entorpecidos
gastos pelo peso da existência
ombros vergados, deixados cansados
sentimentos reflectidos, outrora adormecidos
Gélidos, neutros, abandonados
à espera de sonhos terminados
os olhos cobrem com o nada o tudo da vida
o mármore da face escultural
fruto do nada, mero ideal
Corpo transgrido de prazer
alma de todo o meu ser
memória abandonadas, recolhidas, deixadas
ilusões perdidas, horas vividas
Angústias, desejos, medos
outrora afortunados, agora torturados
imagem, recordação de tempos perdidos
meras palavras de sonhos esquecidos.
Black Rouge
Desliza, fixa, produz
a arrogância, traço da maturidade
abandono daquela atitude
o sexo, doce juventude
Marca de veludo o animal selvagem
ocultando-lhe o toque de virgem
corda num relógio abandonado
motor do sexo estragado
Atrevida e inusitada prepotência
saliva gasta, hálito cansado
discurso corporal, murmúrio gritado
perna aberta, olhar que afecta
Ontem, Hoje, Amanhã (A Impossibilidade de te desejar)
Agarras o meu corpo cansado
Naquele lugar estranho, inusitado
Transferes a tua alma para a minha
Ó bem nascida esperança
Naquele lugar escondido e diferente
Imagine-te, Desejei-te, Tentei-te
Observando a tua imagem, apagada... distante...
Perpetuei-te no meu ser
Erguendo-me, perguntando-te com o olhar
Durante o tempo em que tiveste apagado, a ver
Remoendo na existência triste, a olhar
Ontem, hoje, amanhã...
Havia murmúrio quente na tua imagem
Entrando em mim desejo de tal essência
Naquela penumbra, alta miragem
Roubaste a minha tardia existência
Intrigando-me o pensamento
Qualquer sono ou momento
Último beijo
Em ti...
Levantei-me naquela manhã
Ultimo sono de um amanhã
Íngreme colina em que desejo cair
Sentimento inquieto, emoção ao partir
Senti o teu corpo molhado
Inspirei o teu espírito cansado
Lamentei a tua imagem
Vagueando nos meandros daquela viagem
Agora... Ontem, Hoje, Amanhã...
Viagens de uma puta
Olhar estranho e cansado
pronto a ser penetrado
aparência triste, olhar em riste
olhos marcados, lábios cansados
Forma crua de vida,
a mais antiga, a mais primitiva
paixões, fraquezas de um nada
corpo transparente cujo sexo activa
Pensamento neurótico, momento erótico
carência individual, êxtase total
vida marcada, agonia partilhada
consciência impura, dor que dura
Estrada comprida, perna esculpida
imagem desfeita, existência feita
caminho cansado, corpo masturbado
toque fino de prata, desejo que mata
Nascida para amar, criada para provocar
máquina de destruição, erótica respiração
cabelo desgrenhado, momento marcado
fogo que chama, animal de cama.
Rainha de almofada, boneca estragada
cruz pesada, inocência tapada
maçã tentada, puta deitada
As linhas do corpo cansadas
servidas para serem marcadas
objecto de servir, natureza de esculpir
sonho morto, sexo posto
Cinzeiro de desgaste, loucura que erraste
fonte de prazer, desejo de viver
encontro marcado, sexo tatuado
corpo tentado, corpo sexuado
Back to Black
O acordar da existência
o remoer da inocência
ingenuidade vadia
bravura de dia
acções, espaços de tempo inusitados
loucuras desfeitas, desejos tentados
A pureza do nu,
arrogância de roupa mal lavada
feito objecto, caída...
feito desejo, metida...
Respirações, fluídos sonoros
tela abandonada, imagem habitada
arrasto suportado, sono inalado
estrada comprida, caminho cortado
Bebida fria, louca agonia
beijo quente, olhar que sente
perna que move, perna que sobe
face marcada, face beijada
O que sou, o que ficou…
Escritor já o era, poeta ainda não
sabia de cor a vida mas desconhecia a sua arte
tinha consciência da lógica, fruto da razão
e tudo pensava que dela fazia parte.
A caneta e o papel eram o meu mundo
hoje são apenas pedaços rasgados de pensamento
meras ilusões, recordações de fundo
paisagem negra, colorido cinzento
Na memória tinha a cor do vento,
a estranheza do nada
Hoje tenho as sensações,
a outra face da vida.
A memória falada da tua imagem
O louco horizonte da tua miragem
Movimentado e agitado era
calado e pensativo hoje sou,
começou o desejo, acabou a guerra,
qualquer sonho daquilo que ficou.
Tenho no pensamento a tua respiração
violino melodioso de uma canção
caixa de pensamentos, caixão da tua imagem
horas passadas de uma longa viagem
Eras o mar que rondava, a brisa quente no ar,
a erva arrancada, a terra estragada
o vento quente, a areia molhada
o perfume no ar, o cheiro ao ficar.
Padeceria de medo, angústia, sofrimento
se te arrancasse do mais vivido momento
os teus olhos, o meu guia da noite perdida
a nossa existência, a minha vida, a tua partida…
Reflexo sonhador, reino protector
Inquietude vasta, momento frio, horizonte marcado
dedos esquálidos sobre a face pálida
expressão tímida, olhar desgrenhado
qualquer sonho ou momento acabado
Haja quem houvesse tido
e no silêncio vago mantido
a estranheza e a face de outrora
desejo ou tentação de um vago agora
Utopia das palavras, desenhos de nada
linha esquecida, letra lembrada
passagens fortes de uma qualquer fraqueza
tentações da tua cativante estranheza
Árvore da vida, fruto roubado
um qualquer desejo outrora tentado
folha secas e podres de uma paisagem
imagens marcantes de uma mensagem
Reflexo sonhador, reino protector
porta aberta, janela fechada
vida marcada, vida destinada
perfume original, essência de dor
Melodias que crescem, ritmos que florescem
corpos agarrados naquele nu cansado,
erotismos de palavras que nascem…
tez marcada, beijo dado
Banheira de inconstâncias
Mexo, remexo, observo…
as águas, fluídos da tristeza que chove
A fluidez incessante com que ela se move,
o caos confortável que ela provoca
a vida que ela evoca.
Quedado, usado, estragado
o corpo desfaz-se num intermediário de convulsões
num incessante e vasto sonoro
de uma existência que devoro
Calmas são as águas, enérgicas as marés
mortas são as pedras, movimentadas as terras
invisível é o vazio, visível é a luz
uma energia que se movimenta, desfaz, seduz...
Afogo os sentidos com o vício da virtude
o cigarro, o absinto daquela juventude
cubro as intenções num mar de cinzas
deixando-as viver, flutuar, partir…
Olhamos o quebrar da calmia e o nascer da fúria
acordando-me a mim próprio, acordando para a vida.
A banheira, esse poço que carrega o meu ser
cuja alma esfria, molha, mas não lava
não desfaz a sujidade ao nascer
nem suporta os meus ventos ao padecer
A perfeição da noite
O destino é silenciosamente incerto
mas mais incerto é o vazio
o sentido frio do momento
e a imensidão estranha do nada…
O silêncio é um enigma
cujo mistério o determina,
o medo um desejo
e a sensação um receio
O som substitui a palavra
a reflexão dá lugar à inquietação
a angústia abraça o sofrimento
e a alegria morre no tormento
O rio grita no seu azul profundo
a inexistência quebrada do seu mundo
As flores dançam no seu eterno sentir
sob o anseio de a sua natureza esculpir
O céu aclara o prazer
sobre o negro em que paira a chuva
e os sinos da existência que no passado ressoam
findam num prelúdio de sons que voam
Tela adormecida
Quadro vazio, tela adormecida
pincel vivo da imagem denegrida
pensamentos cheios, imaginação vazia
sombra pálida, cor fria
Sob tumores de uma tinta escondida
recordações de um outrora esquecido
paleta de cores num dia acordado
imaginação, sentido abandonado
Vazio, vazio, vazio
loucura desajeitada, desgastes em redor
Instinto, raiva, pormenor
Borrões de uma mancha apelidada vida
círculos de tudo, linhas de nada
O acordeonista francês
Ao longe num beco,
agrestes melodias que soam em eco
notas soltas, acordes repousados
teclas leves, dedos pesados
De boina e de jeito feito
sentado na penumbra de uma escada
som sussurrado nascido no peito
praça, esquina ou estrada
Era pequenino, mas conhecia a vida
aprendeu-a nas esquinas, vozes do passado
ouvia-a nos silêncios de um outro lado
nas vozes da gente, nos murmúrios de nada
Calça rota, camisola solta
aspecto frágil, inocência fácil
dedos surdos, ouvidos mudos
assim se fez acordeonista francês
Encantava pela sua face
seduzindo qual ponto onde estivesse
apaixonava turistas e gentes locais
amava na vida segredos tais
Tocava sozinho, de si para si
no seu toque, pose astuta
eterna infância adulta
Conta a vida com os dedos
triste, de sorriso na boina
desperto, vagueando nos seus medos,
perde-se em harmonias, estranhas melodias
O tilintar das moedas acordam-no
Vagas palmas, os aplausos chamam-no
As belas tristes canções chamam-no
as melodias da vida transformam-no
Abandonado permanece
silencioso, no seu gritar melodioso
carente, distante, diferente
acordeão, silêncio diferente
O acrobata
Num palco surdo e escuro
escondido sob uma cortina de raro negrume,
o vazio dera lugar à beleza
e a tua presença à mais perfeita das perfeições
Estendido sob o nada de um arco
voaste para o alto do meu olhar
o teu corpo brilhantemente se expressara
e a minha mente sob o teu crepúsculo nascera
A forma do teu movimento
A rara precisão do teu gesto
A elegância da tua arte
e a energia do teu sentimento
Não sei o que és…
Pecado, virtude ou qualidade
apenas sei que reconheço em ti o espectro…
e no teu dom o delírio da liberdade
Sob um foco incandescente de luz,
desenhei na minha mente o teu corpo
reconheci-te a expressão do olhar
e à imagem que me seduz
Tatuei-te no meu espírito
Marquei-te no meu coração,
ilustrei-te na memória
perpetuei-te a solidão
A diferença
A diferença começa na indiferença
no descobrir permanente da verdade
numa incessante e dura busca
levada pela maré da incerteza
O refúgio torna-se na solução
o olhar num mero e eloquente desejo
a sensação num mistério
e o sexo em êxtase fatal
A angústia agudiza-se
o sofrimento intensifica-se
a vontade torna-se doença
e o suspiro um desabafo…
As lágrimas são a melhor manifestação,
lágrimas silenciosas e frias que cruelmente vertem,
lágrimas que queimam o coração fatigado
e esfriam o espírito já gasto, sentido, repousado…
A culpa
Dor interior, agonia superior
medo incómodo, sofrimento chuvoso
a luz da consciência ilumina-a
e a mágoa da alma fortalece-a
A intemperança prende-nos,
A raiva de hora a hora desfaz-nos,
Os olhares queimam-nos como fogo
e voam as cinzas num desprezo silencioso
Não te prendas ao presente
rende-te ao passado e perfilha o futuro
os olhos da alma, esses…
são os que guardam a memória recente
e a visão do grito do sofrimento
o que menos ilude o pensamento
Sonho
Devagar, misteriosa e silenciosa
assim entraste de rompante na minha mente,
feriste-me melodiosamente o silêncio
e findaste com a acalmia que de mim se apoderava
Calada, nua em toda a tua essência
assim me presenteaste
sob o branco puro e virgem da tua existência,
sob a alma que me deixaste
Segredaste-me, suspiraste e falaste-me…
Afogando o teu corpo sobre o frio
acordaste-me com a perfeição do teu brio
e num mar de ébrio transportaste-me
Adeus
Naquele recanto obscuro
frio, gélido e escuro
contemplei a tua imagem
e deixei-me levar pela miragem
Estavas bela, perfeita e encantada
oculta sob a estranheza de uma nada
Culpava-me pelo desejo de te deixar
e pecava de por ti não chorar
Roubaste-me a cor da respiração
e a solenidade daquele dia vão
e o sangue que outrora nas minhas veias corria
dera lugar à mágoa, findando a saudade que havia
Quem me dera ver-te antes do teu findar
quem me dera antes de o sexo acontecer
poder vislumbrar de novo a tua fragrância
acariciar-te, beijar-te, desejar-te
e contigo partir no negrume da existência…
Absurdo
Entre o ridículo e o nada
entre o imperfeito e o sóbrio
no meio da demência e do desvario
e o no fim do raciocínio puro
De pequenos olhos castanhos
a minha negra visão cravaste,
o meu pecaminoso pensamento cessaste
e no mundo do estranho entraste
O nada aperfeiçoou-se com o infinito
e a razão com a lógica persistiu
O feio nasceu do bonito,
a loucura reviu-se na estranheza
e a extravagância no limite da fraqueza
Para além da morte
O horizonte que do Além corre
tornando-se longínquo ao padecer
paisagem fria que eternamente percorre
pautado pela incerteza do ser
As montanhas, descrevendo o sofrimento
Aliam-se na angústia e na dor presentes
De um oceano angustiante nasce o tormento
que apaga o racional louco que sentes
Ao interiorizar os gritos de dor
que num espaço imerso se fazem ouvir em eco
Estremeço na inquietude de um tal beco
onde não há saída nem para amar
nem para na tua alma jamais entrar
Com vontade de os alcançar, de os povoar
morro na maré espinhosa do teu amar
A última lágrima
Numa corrente de desespero infinito
que de forma ardente agride a alma
a mágoa arranha o espírito
e o silêncio ressoa em grito
Outrora com a alma pudesse clamar
que o infinito que me tortura e persegue
morrera sozinho… e triste a chorar...
triste como o destino a que ele se apegara
e triste como quem dele se apoderara
Cego fora…! Cego fora…
Para meu olhar não acorrentar
e silencioso permanecera
para em meu consciente não se expressar
O desgosto apressa-me o movimento
O nada desfere-me em silêncio
A brisa em suspiro se torna
e a hora em infinito se transforma
Louvo por um dia mais te voltar a tocar
Flamejo por dentro por outrora te deixar levar
Peço ao nada para me tornar como ele
permanecendo sem ti ao lado dele.
Escuto o silêncio eterno que a minha alma faz ressoar
e clamo por ti sob a penumbra a olhar
Levas-me ao exagero do incondicional
ao limite máximo de um mortal
à maré de raiva que me descontrola o ensejo
e que te torna no mais ambicioso desejo
Paixão, um ego tortuoso
Foi naquele primoroso olhar
na nostalgia fúnebre do meu ser
que a angústia opressiva do teu falar
me fez cada vez mais sentir… esmorecer
O véu negro que possuis e espelhas
reflecte um coração quente, mas abandonado
Não sei se é ilusão, sonho ou realidade
Não sei se sinto desejo, desprezo ou vontade
Apenas sei que esta névoa escura
Preenche o vazio que no meu peito dura
O pânico invade-me os pensamentos
A dor transforma-os em tormentos
As lágrimas em desespero
e o olhar no fogo de que me apodero
Emanando do túmulo do meu ser
observei a tua imagem ao perder
desaparecendo em ventos contrários aos meus
e desfazendo num sussurro o murmúrio do adeus
Ó divina e frágil Heresia
momento celeste que minha agonia derrama,
solta-me deste castiçal de agonia
que no meu cadáver dolorosamente inflama
Ira lasciva que me apagas a toda a hora
e que numa noite fria me acordas caído
Coloca-me no mausoléu de um tempo indefinido
e solta a dor que no meu âmago implora
O vento que ao longe sussurra e declama
suplica o ego que no momento transparece,
desamarra-me desta Ária sofrida que proclama
e que na noite fria enegrece e a minha alma oferece
Fantasma da minha presença
Encontrava-me eu pelas ruas da solidão
Ao som do forte vento e da grande desilusão
Não tinha nada. Não tinha ninguém…
Só a visão do longínquo horizonte e do distante Além
Estava sozinho….
Estava só entre o mundo que me acompanhava
Não tinha rumo. Não tinha caminho
Tinha apenas uma força que me acompanhava
Cada passo que dou um sofrimento
que abrindo a ferida existência
se prolonga no mero pensamento
desenhando a imagem da tua essência
Sou um fantasma da minha presença
seduzido pelo poder da solidão
Amante de desejos e de beijos
loucas vagas de existências… mera doença
Príncipe Negro
A profundidade que a tua imagem dura
abunde na impetuosa paixão que perdura
na qual a luz eterna da sua imagem
me prende ao sofisma que me consome.
A mágoa que na minha consciência ressoa
escurece o trémulo clarão,
brisa quente do meu coração
Desejo vago que me invade a mente, o entendimento
e que me ofusca a incerteza do pensamento
O destino é um momento incerto
ladeado pelas armas dos homens
cuja vida e lágrimas por perto
afogam os nossos corpos no deserto
A vida é como uma colina
declinada perante a ambiguidade dos seus momentos
que de forma desmesurada florescem
e repentinamente esmorecem
Amor… Sentimento ambíguo
Lírio sentimento esse
que vivendo nas asas da criação
ondula num ambiente perfeito
e me deixou cair, adormecer
Construindo a imagem fria da minha essência
oscilo no seio da minha consciência
e embebendo-me das minhas emoções
afogo-me sob a tuas perdições
Estremeço ao contemplá-la
e esmoreço a esquecê-la
Acordo ao senti-la
e morro ao perdê-la
morro…
Morro sobre o orvalho da minha existência
e entro ébrio num mundo perfeito
num mundo onde predominam as emoções
e o mais absoluto dos sentimentos
O Amor… O amor…
Requiem
Ó tédio sublime que me consomes
Ó ira lasciva que me adormeces!
Solta-me desta inquietante prisão
e lança-me para a pura perfeição
Negro momento de carmesim
não sei se és sonho ou se pesadelo és,
apenas sei que ínfimo do inconsciente
Aclaras a longínqua e dura realidade
Vigilância essa do destino
que me ardes a nobre existência
lança-me pela vida como um libertino
e exibe-me a verdadeira essência
Ó flanco que me oprimes o coração
Ó fúria que no meu corpo inerte
Emite a tua natureza longínqua
e desaparece do meu já consumado corpo
Desejo sombrio
Foi nesse contexto obscuro
outrora o meu doce refúgio
que recolhi no meu duvidoso olhar
a chama imensa do nosso amar
Tão luzente era a forma do teu corpo
e tão imensa era a beleza que continhas
somente o meu eterno e desejo sombrio
pontifica o amor que por ti irradio
As árvores dançam jovialmente
Os pássaros alegremente cantam
Jamais o sentimento em mim latente
apagará a eterna e angustiante fogueira
que os nossos corações suplantam
Precária forma de ser
que eternamente me irás falecer
solta-me desta impaciente loucura
e lança-me no caminho da bravura
Tenho inveja de uma pena….
Franca e ténue como o ar
desejava eternamente poder voar
para me soltar desta alma que me condena
Sou como um velho barco
preso às amarras do quotidiano.
Desejava um dia poder soltar-me
e tornar-me puro…
puro como só o vasto oceano consegue ser
Dama de Negro
Angústia presente em noite escura
que me causas a dor que perdura
dá-me uma oportunidade de vencer
e de o amor poder ter
Solta a minha alma penada
e completa-me com o amor ausente.
Deixa-me perfilhar esta dura caminhada
e possuir esse teu amor ardente
A chama que desta paixão dura
coloca-me num estado de loucura
fria, angustiante e presente….
E transporta-me para um estado decadente
Ó Dama de Negro
que nessa capa escondes o teu sentimento
deixa-me povoar esta força que integro
e poder acabar com esta paixão que alimento
Porque o fazes?
Porque não despes essa dor?
Porque não expressas o amor que trazes?
E sais desse inferno sonhador?!...
Só tu possuis a essência
a perfeição em imagem e em expressão…
Só tu fazes do amor uma beleza
e do sofrimento uma conclusão
O Acontecimento
Na penumbra sólida de uma janela
Esconde-se perante a brisa fria
Uma luz presa numa vela
cuja chama do Inferno atrai e dura.
Os pássaros alegres e contentes
Deixam de produzir a mais bela melodia
As cores dos campos verdejantes e distantes
desaparecem no infinito da imensidão
E eu, assistindo àquilo tudo
permaneço resistente em relação à dor
à dor que permanece negra,
mas distante…
E que aparece do profundo além
e desaparece no distante horizonte.
O Belo violoncelo
A mulher é como um violoncelo
as muralhas de um castelo
a bravura de um rio
a elegância de um pavio
O charme, a beldade, a formosura
o encanto, a harmonia, a estrutura
isenta de um brio espanto
uma imagem de encanto
tudo nela sobressai até ao ínfimo recanto
Aquele objecto chamado vela
A vela apaga-se, a luz acende
finda a calma, findo o restauro
memórias inusitadas, pensamentos quebrados
curvas rasgadas, provas dilaceradas.
Decidi olhá-la de frente
enfrentar a luz mais verdadeira que alguma vez sentira
a transparência limpa de uma alma virgem
a minha existência ardente, a minha confindente
Era tão calada nos seus dissabores
tão ingénua nas suas tentações
a mais pura e simples das visões
a brisa escondida nos becos, a verdade nos arredores
Era pequena, inusitada mas propositada
a folha verde numa árvore de Outono
o monumento na ruína abandonada
a cor preservada no recôndito fauno
Revelou-me sentimentos, desejos, emoções
de uma vida curta, distante, sentida…
deixada ao propósito de uma existência calada
e de um corpo que começa a morrer ao nascer
E, vendo-a calada a meus pés, com um raio de luz
desfeita de tudo aquilo que era e do que queria ser
questiono-me sobre a minha caminhada
longa, distante e apagada…
Lisboa
Lisboa, cidade que me viu nascer,
que me viu crescer e me irá ver morrer
Cidade cujo preço que lhe devo é maior que o Mundo
porque se não fosse Lisboa, de nada seria oriundo
Cidade essa, que também é capital
de um lindo país de nome Portugal
que já foi dos mouros e que agora é nossa
e cujo nome e cultura por todo o lado perpassa
Lisboa, cidade da luz e do engenho
Pérola do Mediterrâneo e de além-mar
Cidade de grande trabalho e empenho
e de umas calçadas de fazer chorar
Só tu possuis aquele encanto peculiar
de planícies, vales e um mar que sobre as tuas terras descansa,
o castelo, os monumentos e os museus de fascinar
e uma beleza que jamais algo alcançará
Antiga Olissipeia de lendas e narrações,
nasceste, cresceste e evoluíste…
Tornaste-te mulher, fizeste-te guerreira e agora és rainha
e jamais cidade alguma te poderá igualar
Aquela arqueóloga
Escavas o meu interior, descobres a minha dor
sou a tua descoberta, a minha janela aberta
Preenches agora a minha vida vazia
debaixo da terra, junto à praia fria
Teus olhos verdes de mar
A tua pele pálida como o ar
pegaste-me no calor da tua mão
e nela descobri a minha razão
Sob o frio gélido de Inverno
acaloravas o teu coração na minha mão
comigo brincavas, datando-me na história
contigo ficava, sob o desejo de qualquer memória
Vergada sobre mim,
sorrias e acordavas ao descobrir
que mais que uma estátua de madeira e carmim
sou o teu objecto de sentir
Escondido sob uma qualquer recordação
de coração adormecido e enterrado
ansiava por sentir o toque dos teus dedos pálidos,
a sua cor, a textura, a vibração…
e nos teus olhos afogar meu coração
-Vida: Achas capaz de levar a bom porto as ideias que tens?
-Poeta: Não. Prefiro que fiquem enterradas na mais funda das terras e o que o mar as faça fluir, o ar as faça emergir, mas não eu, nunca eu, jamais eu...
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