segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Lábios

Clausura janela a que se destina me bem querer
careço do negro padecer que a noite me traz e apraz
moroso é o vento que desenha nosso intento
o medo é esse receio desejado por outros atormentado

Vem ao longe, imaginado...
Bem de perto, solucionado...
A procura de quem aprendeu a encontrar
O perdido nunca de quem se sabe revelar

Naquele inventivo perdido em que vivo
vermelho apagado em meu sonho desenhado
o espaço coberto coberto que ao longe vejo de perto
areia, pó, daquele nada tão só

Inventivas discretas, em si mesmo descobertas
realce sombreado por um todo quanto levado
de dizer o dito afinado pelos olhos nunca cantado
caminho ou perigo em nossos lábios sugerido

Prenúncio existido daquele que beija quando deseja
efémero sem o ter nesse som sem tom
A palavra omitida pela poesia ofendida
tão pouco esse gesto que define tudo o resto

Preces demoradas

Plácida é a forma que a sombra retoma
entre os silêncios surdos que dormem sem se mover
a nascente que grita o calado ofuscado
de tanto chorado, tão só o beijo findado

Declamam os prazeres em tuas vestes
ofuscado é o prazer de te ver a ser
níveo beijo que em teu traço sobejo
castigar a luz ausente que te imprime jamais diferente

Venerado anseio de querer a que me apego
nesse todo sem parte de te ter
da condenação as algemas da sobrada esperança
exasperada saudade que em tudo me cansa´

Irreprímível é o olhar que me anseia a coragem
segundos são horas nessas demais delongas demoras
Invento as palavras em acordes desordenados
nessa prece que minha existência tece

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Emergências


Naquela prisão, nesse subterfúgio cativeiro
onde a luz desfocada de um sol desfeito nos evoca em primeiro
afundamos as submissões em desvarios de perguntas
intermitências são evocadas para no interior serem agarradas

Emergências solicitadas em meu corpo depositadas
em mim entregues pro mim renegadas
reminiscências esotéricas em minhas ilusões, seduções
daquele pecado em meu corpo sublevado

Denegrido aparece o sol nunca existido
em vão é a luta nessa caverna de paredes e redes
golpes de vento que acarretam o firmamento
o pássaro cansado que canta meu desespero evocado

Vibrante, sem ressoar a fé do sonho
morrer é o gasto papel em que solenemente me atiro
queixumes agoras de entãos agarrados ao nada erguido
inconsequente doer sem o prazer magoado

Descanso é o querer invadido do nada sugerido
da dor suplantado o grito de nascer a viver
recordações secas de deixas levadas em cena
da grande mágoa o fruto da lágrima mais pequena...

Corpo usado



Envolvem-se as palavras nesse uso estragado
entregam-se ao sorriso máscaras fingidas no sempre forçado
caminhado soluçar que recua cada saída em falso
jeito de ser o ser nesse indizível sem querer

Recuam as facetas mal logradas de sentir o engenho
esticar o vazio de si só preso pelo tamanho
O pêndulo soluçado que abandonado se entrega retornado
olhares perdidos ao vento colhidos em pensamento

Entregam-se ao abandono as imagens sem retorno
relógio incerto nesse eco por perto
pedras são quebrantes maldizentes na vida diferentes
luz que nunca encontro nesse caminho que definho

Invisível é o transparente nesse toque sem mão
espelhada a mentira nesse falsidade sem verdade
cansam-se os amanhãs por um dia nunca o serem
acabadas que estão as chamadas daqueles cujos sonhos tecem...

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Labirinto


A sós em mim, manejo o universo em verso
a janela sempre fechada em minhas faces deixadas
descortino os olhos naquele clarão sempre esquecido
o cego viver de existir sem me aperceber

As luas desventuradas, os sóis sempre apagados
o pensamento do sonhar o escuro que demoro a encontrar
labirinto desejado em tuas paredes nunca agarradas
esse sonhar amanhã de um dia sem manhã

Da blasfémia de amar o sexo igual ao meu
sem nunca estar confortado junto ao teu
procuro encontrar a perdição sem engenho em minha mão
a pérola mais luzidia dessa concha sem dia

Sonho sem sombra


O sonhado soluçar nesse remorso respirar
momento, vazão, augúria hora de em tempos descansar
restam os ínfimos acabados de um sonho perpetrados
apanágio das almas em meus sonos realizados

Sombra escura que me eclipsa o dia
me manobra os cantos, me seduz os recantos
apagado está o irreal sonhado em vida pensado
reflexão de uma hipótese de um dia ser vivido...

A lua despida que enegrece as folhas já escuras...
cor sem cor nesse deleite sem sabor
recôndita alma subjugada no cinzento retrato
recordação, pensamento, obscuro calar de um acto

Foge-me o querer, anseia-me saber para te ter
descodificar teus gestos súbitos na maré da imprecisão
longevidade que me agudiza sobejo vento vão
horas tardias no pensar a ver o visto já previsto...

domingo, 9 de maio de 2010

Lendas da Paixão


Dispo de medo o cansaço ausente
falta de sombra nesse escuro presente
o suor de quem clama por horizontes escondidos
essa procura entre segredos outrora omitidos

Sobre o cipreste da razão
folha podre prostrada em minha mão
a sede de anseio que sobre os olhos caminha
o mistério atrás das paredes deste céu

Devassam-se os desejos entre a pele gasta
marcada, fingida, sentida, perdida
o toque da pena nesse mastigar solúvel
de um segredo atrás nesse tempo visível

Entre as lágrimas da chuva pesadas
dessas mágoas de lamúria carregadas
o abraço do longe nesse apagado traço
a escrita sem cor nessas linhas sem dor

Despidas as árvores do calar nocturno
madrugadas as folhas nesse despertar repousado
as almas perdidas em solidão encontradas
nesse funeral de paixão de imagens criadas