sábado, 24 de abril de 2010

A era dos sentidos

Relatos esquecidos da memória abrangidos
escritos, tempos fingidos do nada erguidos
o passado que é hoje porque o foi um dia
esse momento logo que o futuro a demais adia

Perseguem-se os inauditos, os mudos de si já surdos
atormentam-se os calados do silêncio desprezados
apontam-se os expressivos que tudo dizem para nada fazerem
essa coragem de pernas tortas sem altura, sem estrutura

Enlouquecido, o tempo divaga o acontecido
despertada a loucura nos meandros da viagem
sem sentido soluçado confuso e guardado
esse tempo agarrado a que tanto me desagrado

E se os dias são horas a que os segundos crescem
as datas são viagens sem porto de abrigo
a terra jamais vista, por nunca ser contada jamais acreditada
do alto do sul, o quebrante do sonho no distante horizonte

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Mórbido-Comum

Numa massa novelada de ideias mórbidas
eis que cantam as águas de sangue
nascente etérea que me cansa a leveza
do desnudo enleite o que me subestima a dureza

Queirando desbutar-me, enfim preclaro alcançar-me
agarrar o firmamento com as enxadas do tempo
quebrando o orgulho que em ousadia me queima
a desnuda mente que perpassa as marés do contratempo

Arremessei de madeira a vontade erguida
manobras fiz na minha alma certa e fingida
sombra que a realidade me cobre e em tudo me chove
e que ninguém do sonho me assusta o nada

Marca de ti...

Subterrânea intriga conscenciosa
projecta em minha mente pecaminosa
o augúrio, vasto terreno fértil de pecado
pousio atroz que me invade o ser amado

O ser beijado, de tão erótico, molhado…
o ser pecado de tão leve rogado…
o beijo triste tão melancólico em mim marcado
fugaz assente chamado no sexo vergado

O ser etéreo do mais invisível ao mais desprezível
preenche o vazio da realidade, a chama pura da verdade
de tão pequeno, o todo nada pela metade
que me desgastam nas pernas, os braços que suportam tal falsidade

o engano atrás dos dedos...

Atrozmente, roçamos os desejos no mesmo sangue
nesse entulho e desvairado sonho poético
que me encalça o mórbido de lama chama
sujo de sujidade no entulho que me faz a cama

O incomum pensamento que me atormenta o vazio
preenche de silêncio o rasgado desejado
fatal construção que destrói do mito a sensação
de quem se toma, por quem se diz…

Descontrolado, o etéreo musical desafinado
já si pelos versos chamado
acaba as estradas de meus esforços inúteis, por bem, por mal
o fim, o encalço do começado iniciado pelo final…

Passando a vida a enganar as minhas verdades
preenchendo-as de linhas vazias, silenciadas
rasgo o sexo do mais fundo o mais sexuado
do mais porco, o mais afrodisíaco bocado…

O velho-novo

Em ideais desvairados
quais sugestões mal pensadas
os olhos cavam a face imersa
estancados no fundo da uma tão dureza

Enrugado de preponderantes defeitos
perpetrados de curvas, esses fracos enleites
a face deixa que o tempo descanse
e que nas suas curvas o cansaço se canse

Cinge-se a verdade de um irreal conseguido
a realidade, essa, se existe não persiste
no desgaste já fundo de um esquecido infinito
que nasce do silêncio do horizonte emergindo em grito

Manejado está o enfeite do destino começado
já nada assinalado neste augúrio caminho parado
palmilhado os remorsos, queimado os destroços
conta do zero os cem que em tempos eram nossos