domingo, 24 de janeiro de 2010

WISHING YOU WERE SOMEHOW WERE AGAIN

Foram tantas as palavras, as frases rasgadas em agonia, os traços incontidos esboçados na incerteza…


Numa qualquer noite acordado


Sob a noite acordado,
Sob o dia adormecido
remorsos de horas passadas, segundos acabados
vagas de sonhos na noite acordados

Íntegra força que tens
Magia, fascínio, ego que deténs
Loucas vidas numa só noite
repuxos de uma tal fonte

Os lagos formam-se nos olhos da alma
nos narizes, as colinas de nada
a testa, terra em que assenta a razão
a boca, pedra de toque do coração

Objecto, estátua de afecto
pequena recordação que os meus recantos guardaram
lençóis puxados, sentidos, lembrados
poesia surda que teus lábios evocaram



Levemente


Levemente, à espera de alguém
num invisível, pálido de ninguém
beijo tristes, lábios postos
alma fria, corpos soltos

Espelho vazio, vidro partido
imagem viva de alguém perdido
memória presente, passado que sente
oculta imagem que me pressente

Silêncio, brisa, sombra
frio, quente, gélido
memória, passado figurado
presente, momento assombrado

Vaidade, intriga, ciúme
percorrida a montanha, chegada ao teu cume
desejo, fruta, tentação
beijo quente, eterna perdição

Deixo-me levar pela arte de sentir
vivo, no desejo de te servir
seguro o teu corpo cansado, deitado
apoio a tua alma fria, vazia...

És a força na fraqueza
o racional da mera estranheza
Rosa vermelha, espinho dourado
beijo roubado, corpo marcado



Mármore da face escultural

Dedos gélidos, entorpecidos
gastos pelo peso da existência
ombros vergados, deixados cansados
sentimentos reflectidos, outrora adormecidos

Gélidos, neutros, abandonados
à espera de sonhos terminados
os olhos cobrem com o nada o tudo da vida
o mármore da face escultural
fruto do nada, mero ideal

Corpo transgrido de prazer
alma de todo o meu ser
memória abandonadas, recolhidas, deixadas
ilusões perdidas, horas vividas

Angústias, desejos, medos
outrora afortunados, agora torturados
imagem, recordação de tempos perdidos
meras palavras de sonhos esquecidos.



Black Rouge

Desliza, fixa, produz
a arrogância, traço da maturidade
abandono daquela atitude
o sexo, doce juventude

Marca de veludo o animal selvagem
ocultando-lhe o toque de virgem
corda num relógio abandonado
motor do sexo estragado

Atrevida e inusitada prepotência
saliva gasta, hálito cansado
discurso corporal, murmúrio gritado
perna aberta, olhar que afecta



Ontem, Hoje, Amanhã (A Impossibilidade de te desejar)

Agarras o meu corpo cansado
Naquele lugar estranho, inusitado
Transferes a tua alma para a minha
Ó bem nascida esperança
Naquele lugar escondido e diferente
Imagine-te, Desejei-te, Tentei-te
Observando a tua imagem, apagada... distante...

Perpetuei-te no meu ser
Erguendo-me, perguntando-te com o olhar
Durante o tempo em que tiveste apagado, a ver
Remoendo na existência triste, a olhar
Ontem, hoje, amanhã...

Havia murmúrio quente na tua imagem
Entrando em mim desejo de tal essência
Naquela penumbra, alta miragem
Roubaste a minha tardia existência
Intrigando-me o pensamento
Qualquer sono ou momento
Último beijo
Em ti...

Levantei-me naquela manhã
Ultimo sono de um amanhã
Íngreme colina em que desejo cair
Sentimento inquieto, emoção ao partir

Senti o teu corpo molhado
Inspirei o teu espírito cansado
Lamentei a tua imagem
Vagueando nos meandros daquela viagem
Agora... Ontem, Hoje, Amanhã...


Viagens de uma puta

Olhar estranho e cansado
pronto a ser penetrado
aparência triste, olhar em riste
olhos marcados, lábios cansados

Forma crua de vida,
a mais antiga, a mais primitiva
paixões, fraquezas de um nada
corpo transparente cujo sexo activa

Pensamento neurótico, momento erótico
carência individual, êxtase total
vida marcada, agonia partilhada
consciência impura, dor que dura

Estrada comprida, perna esculpida
imagem desfeita, existência feita
caminho cansado, corpo masturbado
toque fino de prata, desejo que mata

Nascida para amar, criada para provocar
máquina de destruição, erótica respiração
cabelo desgrenhado, momento marcado
fogo que chama, animal de cama.

Rainha de almofada, boneca estragada
cruz pesada, inocência tapada
maçã tentada, puta deitada

As linhas do corpo cansadas
servidas para serem marcadas
objecto de servir, natureza de esculpir
sonho morto, sexo posto

Cinzeiro de desgaste, loucura que erraste
fonte de prazer, desejo de viver
encontro marcado, sexo tatuado
corpo tentado, corpo sexuado


Back to Black

O acordar da existência
o remoer da inocência
ingenuidade vadia
bravura de dia
acções, espaços de tempo inusitados
loucuras desfeitas, desejos tentados

A pureza do nu,
arrogância de roupa mal lavada
feito objecto, caída...
feito desejo, metida...

Respirações, fluídos sonoros
tela abandonada, imagem habitada
arrasto suportado, sono inalado
estrada comprida, caminho cortado

Bebida fria, louca agonia
beijo quente, olhar que sente
perna que move, perna que sobe
face marcada, face beijada


O que sou, o que ficou…

Escritor já o era, poeta ainda não
sabia de cor a vida mas desconhecia a sua arte
tinha consciência da lógica, fruto da razão
e tudo pensava que dela fazia parte.

A caneta e o papel eram o meu mundo
hoje são apenas pedaços rasgados de pensamento
meras ilusões, recordações de fundo
paisagem negra, colorido cinzento

Na memória tinha a cor do vento,
a estranheza do nada
Hoje tenho as sensações,
a outra face da vida.
A memória falada da tua imagem
O louco horizonte da tua miragem

Movimentado e agitado era
calado e pensativo hoje sou,
começou o desejo, acabou a guerra,
qualquer sonho daquilo que ficou.

Tenho no pensamento a tua respiração
violino melodioso de uma canção
caixa de pensamentos, caixão da tua imagem
horas passadas de uma longa viagem

Eras o mar que rondava, a brisa quente no ar,
a erva arrancada, a terra estragada
o vento quente, a areia molhada
o perfume no ar, o cheiro ao ficar.

Padeceria de medo, angústia, sofrimento
se te arrancasse do mais vivido momento
os teus olhos, o meu guia da noite perdida
a nossa existência, a minha vida, a tua partida…



Reflexo sonhador, reino protector


Inquietude vasta, momento frio, horizonte marcado
dedos esquálidos sobre a face pálida
expressão tímida, olhar desgrenhado
qualquer sonho ou momento acabado

Haja quem houvesse tido
e no silêncio vago mantido
a estranheza e a face de outrora
desejo ou tentação de um vago agora

Utopia das palavras, desenhos de nada
linha esquecida, letra lembrada
passagens fortes de uma qualquer fraqueza
tentações da tua cativante estranheza

Árvore da vida, fruto roubado
um qualquer desejo outrora tentado
folha secas e podres de uma paisagem
imagens marcantes de uma mensagem
Reflexo sonhador, reino protector
porta aberta, janela fechada
vida marcada, vida destinada
perfume original, essência de dor

Melodias que crescem, ritmos que florescem
corpos agarrados naquele nu cansado,
erotismos de palavras que nascem…
tez marcada, beijo dado


Banheira de inconstâncias

Mexo, remexo, observo…
as águas, fluídos da tristeza que chove
A fluidez incessante com que ela se move,
o caos confortável que ela provoca
a vida que ela evoca.

Quedado, usado, estragado
o corpo desfaz-se num intermediário de convulsões
num incessante e vasto sonoro
de uma existência que devoro

Calmas são as águas, enérgicas as marés
mortas são as pedras, movimentadas as terras
invisível é o vazio, visível é a luz
uma energia que se movimenta, desfaz, seduz...

Afogo os sentidos com o vício da virtude
o cigarro, o absinto daquela juventude
cubro as intenções num mar de cinzas
deixando-as viver, flutuar, partir…
Olhamos o quebrar da calmia e o nascer da fúria
acordando-me a mim próprio, acordando para a vida.

A banheira, esse poço que carrega o meu ser
cuja alma esfria, molha, mas não lava
não desfaz a sujidade ao nascer
nem suporta os meus ventos ao padecer


A perfeição da noite

O destino é silenciosamente incerto
mas mais incerto é o vazio
o sentido frio do momento
e a imensidão estranha do nada…

O silêncio é um enigma
cujo mistério o determina,
o medo um desejo
e a sensação um receio

O som substitui a palavra
a reflexão dá lugar à inquietação
a angústia abraça o sofrimento
e a alegria morre no tormento

O rio grita no seu azul profundo
a inexistência quebrada do seu mundo
As flores dançam no seu eterno sentir
sob o anseio de a sua natureza esculpir

O céu aclara o prazer
sobre o negro em que paira a chuva
e os sinos da existência que no passado ressoam
findam num prelúdio de sons que voam


Tela adormecida

Quadro vazio, tela adormecida
pincel vivo da imagem denegrida
pensamentos cheios, imaginação vazia
sombra pálida, cor fria

Sob tumores de uma tinta escondida
recordações de um outrora esquecido
paleta de cores num dia acordado
imaginação, sentido abandonado

Vazio, vazio, vazio
loucura desajeitada, desgastes em redor
Instinto, raiva, pormenor
Borrões de uma mancha apelidada vida
círculos de tudo, linhas de nada


O acordeonista francês

Ao longe num beco,
agrestes melodias que soam em eco
notas soltas, acordes repousados
teclas leves, dedos pesados

De boina e de jeito feito
sentado na penumbra de uma escada
som sussurrado nascido no peito
praça, esquina ou estrada

Era pequenino, mas conhecia a vida
aprendeu-a nas esquinas, vozes do passado
ouvia-a nos silêncios de um outro lado
nas vozes da gente, nos murmúrios de nada

Calça rota, camisola solta
aspecto frágil, inocência fácil
dedos surdos, ouvidos mudos
assim se fez acordeonista francês

Encantava pela sua face
seduzindo qual ponto onde estivesse
apaixonava turistas e gentes locais
amava na vida segredos tais

Tocava sozinho, de si para si
no seu toque, pose astuta
eterna infância adulta
Conta a vida com os dedos
triste, de sorriso na boina
desperto, vagueando nos seus medos,
perde-se em harmonias, estranhas melodias

O tilintar das moedas acordam-no
Vagas palmas, os aplausos chamam-no
As belas tristes canções chamam-no
as melodias da vida transformam-no

Abandonado permanece
silencioso, no seu gritar melodioso
carente, distante, diferente
acordeão, silêncio diferente


O acrobata

Num palco surdo e escuro
escondido sob uma cortina de raro negrume,
o vazio dera lugar à beleza
e a tua presença à mais perfeita das perfeições
Estendido sob o nada de um arco
voaste para o alto do meu olhar
o teu corpo brilhantemente se expressara
e a minha mente sob o teu crepúsculo nascera
A forma do teu movimento
A rara precisão do teu gesto
A elegância da tua arte
e a energia do teu sentimento

Não sei o que és…
Pecado, virtude ou qualidade
apenas sei que reconheço em ti o espectro…
e no teu dom o delírio da liberdade
Sob um foco incandescente de luz,
desenhei na minha mente o teu corpo
reconheci-te a expressão do olhar
e à imagem que me seduz
Tatuei-te no meu espírito
Marquei-te no meu coração,
ilustrei-te na memória
perpetuei-te a solidão



A diferença

A diferença começa na indiferença
no descobrir permanente da verdade
numa incessante e dura busca
levada pela maré da incerteza

O refúgio torna-se na solução
o olhar num mero e eloquente desejo
a sensação num mistério
e o sexo em êxtase fatal

A angústia agudiza-se
o sofrimento intensifica-se
a vontade torna-se doença
e o suspiro um desabafo…

As lágrimas são a melhor manifestação,
lágrimas silenciosas e frias que cruelmente vertem,
lágrimas que queimam o coração fatigado
e esfriam o espírito já gasto, sentido, repousado…


A culpa

Dor interior, agonia superior
medo incómodo, sofrimento chuvoso
a luz da consciência ilumina-a
e a mágoa da alma fortalece-a

A intemperança prende-nos,
A raiva de hora a hora desfaz-nos,
Os olhares queimam-nos como fogo
e voam as cinzas num desprezo silencioso

Não te prendas ao presente
rende-te ao passado e perfilha o futuro
os olhos da alma, esses…
são os que guardam a memória recente
e a visão do grito do sofrimento
o que menos ilude o pensamento



Sonho

Devagar, misteriosa e silenciosa
assim entraste de rompante na minha mente,
feriste-me melodiosamente o silêncio
e findaste com a acalmia que de mim se apoderava

Calada, nua em toda a tua essência
assim me presenteaste
sob o branco puro e virgem da tua existência,
sob a alma que me deixaste

Segredaste-me, suspiraste e falaste-me…
Afogando o teu corpo sobre o frio
acordaste-me com a perfeição do teu brio
e num mar de ébrio transportaste-me


Adeus

Naquele recanto obscuro
frio, gélido e escuro
contemplei a tua imagem
e deixei-me levar pela miragem

Estavas bela, perfeita e encantada
oculta sob a estranheza de uma nada
Culpava-me pelo desejo de te deixar
e pecava de por ti não chorar

Roubaste-me a cor da respiração
e a solenidade daquele dia vão
e o sangue que outrora nas minhas veias corria
dera lugar à mágoa, findando a saudade que havia

Quem me dera ver-te antes do teu findar
quem me dera antes de o sexo acontecer
poder vislumbrar de novo a tua fragrância
acariciar-te, beijar-te, desejar-te
e contigo partir no negrume da existência…


Absurdo

Entre o ridículo e o nada
entre o imperfeito e o sóbrio
no meio da demência e do desvario
e o no fim do raciocínio puro

De pequenos olhos castanhos
a minha negra visão cravaste,
o meu pecaminoso pensamento cessaste
e no mundo do estranho entraste

O nada aperfeiçoou-se com o infinito
e a razão com a lógica persistiu
O feio nasceu do bonito,
a loucura reviu-se na estranheza
e a extravagância no limite da fraqueza


Para além da morte

O horizonte que do Além corre
tornando-se longínquo ao padecer
paisagem fria que eternamente percorre
pautado pela incerteza do ser

As montanhas, descrevendo o sofrimento
Aliam-se na angústia e na dor presentes
De um oceano angustiante nasce o tormento
que apaga o racional louco que sentes

Ao interiorizar os gritos de dor
que num espaço imerso se fazem ouvir em eco
Estremeço na inquietude de um tal beco
onde não há saída nem para amar
nem para na tua alma jamais entrar
Com vontade de os alcançar, de os povoar
morro na maré espinhosa do teu amar



A última lágrima


Numa corrente de desespero infinito
que de forma ardente agride a alma
a mágoa arranha o espírito
e o silêncio ressoa em grito

Outrora com a alma pudesse clamar
que o infinito que me tortura e persegue
morrera sozinho… e triste a chorar...
triste como o destino a que ele se apegara
e triste como quem dele se apoderara

Cego fora…! Cego fora…
Para meu olhar não acorrentar
e silencioso permanecera
para em meu consciente não se expressar

O desgosto apressa-me o movimento
O nada desfere-me em silêncio
A brisa em suspiro se torna
e a hora em infinito se transforma

Louvo por um dia mais te voltar a tocar
Flamejo por dentro por outrora te deixar levar
Peço ao nada para me tornar como ele
permanecendo sem ti ao lado dele.

Escuto o silêncio eterno que a minha alma faz ressoar
e clamo por ti sob a penumbra a olhar
Levas-me ao exagero do incondicional
ao limite máximo de um mortal
à maré de raiva que me descontrola o ensejo
e que te torna no mais ambicioso desejo


Paixão, um ego tortuoso

Foi naquele primoroso olhar
na nostalgia fúnebre do meu ser
que a angústia opressiva do teu falar
me fez cada vez mais sentir… esmorecer

O véu negro que possuis e espelhas
reflecte um coração quente, mas abandonado
Não sei se é ilusão, sonho ou realidade
Não sei se sinto desejo, desprezo ou vontade
Apenas sei que esta névoa escura
Preenche o vazio que no meu peito dura
O pânico invade-me os pensamentos
A dor transforma-os em tormentos
As lágrimas em desespero
e o olhar no fogo de que me apodero

Emanando do túmulo do meu ser
observei a tua imagem ao perder
desaparecendo em ventos contrários aos meus
e desfazendo num sussurro o murmúrio do adeus
Ó divina e frágil Heresia
momento celeste que minha agonia derrama,
solta-me deste castiçal de agonia
que no meu cadáver dolorosamente inflama

Ira lasciva que me apagas a toda a hora
e que numa noite fria me acordas caído
Coloca-me no mausoléu de um tempo indefinido
e solta a dor que no meu âmago implora
O vento que ao longe sussurra e declama
suplica o ego que no momento transparece,
desamarra-me desta Ária sofrida que proclama
e que na noite fria enegrece e a minha alma oferece



Fantasma da minha presença


Encontrava-me eu pelas ruas da solidão
Ao som do forte vento e da grande desilusão
Não tinha nada. Não tinha ninguém…
Só a visão do longínquo horizonte e do distante Além

Estava sozinho….
Estava só entre o mundo que me acompanhava
Não tinha rumo. Não tinha caminho
Tinha apenas uma força que me acompanhava

Cada passo que dou um sofrimento
que abrindo a ferida existência
se prolonga no mero pensamento
desenhando a imagem da tua essência

Sou um fantasma da minha presença
seduzido pelo poder da solidão
Amante de desejos e de beijos
loucas vagas de existências… mera doença



Príncipe Negro

A profundidade que a tua imagem dura
abunde na impetuosa paixão que perdura
na qual a luz eterna da sua imagem
me prende ao sofisma que me consome.

A mágoa que na minha consciência ressoa
escurece o trémulo clarão,
brisa quente do meu coração
Desejo vago que me invade a mente, o entendimento
e que me ofusca a incerteza do pensamento
O destino é um momento incerto
ladeado pelas armas dos homens
cuja vida e lágrimas por perto
afogam os nossos corpos no deserto
A vida é como uma colina
declinada perante a ambiguidade dos seus momentos
que de forma desmesurada florescem
e repentinamente esmorecem



Amor… Sentimento ambíguo


Lírio sentimento esse
que vivendo nas asas da criação
ondula num ambiente perfeito
e me deixou cair, adormecer

Construindo a imagem fria da minha essência
oscilo no seio da minha consciência
e embebendo-me das minhas emoções
afogo-me sob a tuas perdições
Estremeço ao contemplá-la
e esmoreço a esquecê-la
Acordo ao senti-la
e morro ao perdê-la
morro…
Morro sobre o orvalho da minha existência
e entro ébrio num mundo perfeito
num mundo onde predominam as emoções
e o mais absoluto dos sentimentos
O Amor… O amor…


Requiem

Ó tédio sublime que me consomes
Ó ira lasciva que me adormeces!
Solta-me desta inquietante prisão
e lança-me para a pura perfeição
Negro momento de carmesim
não sei se és sonho ou se pesadelo és,
apenas sei que ínfimo do inconsciente
Aclaras a longínqua e dura realidade
Vigilância essa do destino
que me ardes a nobre existência
lança-me pela vida como um libertino
e exibe-me a verdadeira essência
Ó flanco que me oprimes o coração
Ó fúria que no meu corpo inerte
Emite a tua natureza longínqua
e desaparece do meu já consumado corpo


Desejo sombrio

Foi nesse contexto obscuro
outrora o meu doce refúgio
que recolhi no meu duvidoso olhar
a chama imensa do nosso amar
Tão luzente era a forma do teu corpo
e tão imensa era a beleza que continhas
somente o meu eterno e desejo sombrio
pontifica o amor que por ti irradio

As árvores dançam jovialmente
Os pássaros alegremente cantam
Jamais o sentimento em mim latente
apagará a eterna e angustiante fogueira
que os nossos corações suplantam
Precária forma de ser
que eternamente me irás falecer
solta-me desta impaciente loucura
e lança-me no caminho da bravura
Tenho inveja de uma pena….
Franca e ténue como o ar
desejava eternamente poder voar
para me soltar desta alma que me condena

Sou como um velho barco
preso às amarras do quotidiano.
Desejava um dia poder soltar-me
e tornar-me puro…
puro como só o vasto oceano consegue ser


Dama de Negro

Angústia presente em noite escura
que me causas a dor que perdura
dá-me uma oportunidade de vencer
e de o amor poder ter
Solta a minha alma penada
e completa-me com o amor ausente.
Deixa-me perfilhar esta dura caminhada
e possuir esse teu amor ardente
A chama que desta paixão dura
coloca-me num estado de loucura
fria, angustiante e presente….
E transporta-me para um estado decadente
Ó Dama de Negro
que nessa capa escondes o teu sentimento
deixa-me povoar esta força que integro
e poder acabar com esta paixão que alimento

Porque o fazes?
Porque não despes essa dor?
Porque não expressas o amor que trazes?
E sais desse inferno sonhador?!...
Só tu possuis a essência
a perfeição em imagem e em expressão…
Só tu fazes do amor uma beleza
e do sofrimento uma conclusão


O Acontecimento

Na penumbra sólida de uma janela
Esconde-se perante a brisa fria
Uma luz presa numa vela
cuja chama do Inferno atrai e dura.

Os pássaros alegres e contentes
Deixam de produzir a mais bela melodia
As cores dos campos verdejantes e distantes
desaparecem no infinito da imensidão

E eu, assistindo àquilo tudo
permaneço resistente em relação à dor
à dor que permanece negra,
mas distante…
E que aparece do profundo além
e desaparece no distante horizonte.


O Belo violoncelo

A mulher é como um violoncelo
as muralhas de um castelo
a bravura de um rio
a elegância de um pavio

O charme, a beldade, a formosura
o encanto, a harmonia, a estrutura
isenta de um brio espanto
uma imagem de encanto
tudo nela sobressai até ao ínfimo recanto



Aquele objecto chamado vela


A vela apaga-se, a luz acende
finda a calma, findo o restauro
memórias inusitadas, pensamentos quebrados
curvas rasgadas, provas dilaceradas.

Decidi olhá-la de frente
enfrentar a luz mais verdadeira que alguma vez sentira
a transparência limpa de uma alma virgem
a minha existência ardente, a minha confindente

Era tão calada nos seus dissabores
tão ingénua nas suas tentações
a mais pura e simples das visões
a brisa escondida nos becos, a verdade nos arredores

Era pequena, inusitada mas propositada
a folha verde numa árvore de Outono
o monumento na ruína abandonada
a cor preservada no recôndito fauno

Revelou-me sentimentos, desejos, emoções
de uma vida curta, distante, sentida…
deixada ao propósito de uma existência calada
e de um corpo que começa a morrer ao nascer

E, vendo-a calada a meus pés, com um raio de luz
desfeita de tudo aquilo que era e do que queria ser
questiono-me sobre a minha caminhada
longa, distante e apagada…

Lisboa

Lisboa, cidade que me viu nascer,
que me viu crescer e me irá ver morrer
Cidade cujo preço que lhe devo é maior que o Mundo
porque se não fosse Lisboa, de nada seria oriundo

Cidade essa, que também é capital
de um lindo país de nome Portugal
que já foi dos mouros e que agora é nossa
e cujo nome e cultura por todo o lado perpassa

Lisboa, cidade da luz e do engenho
Pérola do Mediterrâneo e de além-mar
Cidade de grande trabalho e empenho
e de umas calçadas de fazer chorar

Só tu possuis aquele encanto peculiar
de planícies, vales e um mar que sobre as tuas terras descansa,
o castelo, os monumentos e os museus de fascinar
e uma beleza que jamais algo alcançará

Antiga Olissipeia de lendas e narrações,
nasceste, cresceste e evoluíste…
Tornaste-te mulher, fizeste-te guerreira e agora és rainha
e jamais cidade alguma te poderá igualar


Aquela arqueóloga


Escavas o meu interior, descobres a minha dor
sou a tua descoberta, a minha janela aberta
Preenches agora a minha vida vazia
debaixo da terra, junto à praia fria

Teus olhos verdes de mar
A tua pele pálida como o ar
pegaste-me no calor da tua mão
e nela descobri a minha razão

Sob o frio gélido de Inverno
acaloravas o teu coração na minha mão
comigo brincavas, datando-me na história
contigo ficava, sob o desejo de qualquer memória

Vergada sobre mim,
sorrias e acordavas ao descobrir
que mais que uma estátua de madeira e carmim
sou o teu objecto de sentir

Escondido sob uma qualquer recordação
de coração adormecido e enterrado
ansiava por sentir o toque dos teus dedos pálidos,
a sua cor, a textura, a vibração…
e nos teus olhos afogar meu coração

-Vida: Achas capaz de levar a bom porto as ideias que tens?

-Poeta: Não. Prefiro que fiquem enterradas na mais funda das terras e o que o mar as faça fluir, o ar as faça emergir, mas não eu, nunca eu, jamais eu...